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As cheias em Portugal são recorrentes? E o país está ou não entre os mais afetados pelas grandes inundações?

Sofia Miguel Rosa

Jornalista infográfica

Sofia Miguel Rosa

Jornalista infográfica

Portugal
União Europeia
Cheias e deslizamentos de terras
nos 27 Estados-membros da União Europeia
de 1950 a 2022*

*Um episódio é classificado como desastre quando se verifica pelo menos uma das seguintes situações: 10 ou mais mortes diretas; 100 ou mais pessoas afetadas; quando é emitida uma declaração de estado de emergência; quando é feito um pedido de ajuda internacional. EM-DAT

Desde 1950 foram registados 462 episódios de cheias e deslizamentos de terras nos países-membros da União Europeia

Sem qualquer registo está a Dinamarca, a Estónia, a Letónia e também Chipre e Malta que não tiveram nenhuma catástrofe natural de grandes dimensões em 72 anos

Entre 1967 e 2015 as cheias e deslizamentos de terras fizeram mais de 626 vítimas mortais em Portugal

Portugal teve 16 cheias nesse período, se contarmos com as inundações de dezembro de 2022, o que equivale a 3,5% do total europeu

França, Itália e Roménia são os países mais afetados

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Desde 1950 foram registados 462 episódios de cheias e deslizamentos de terras nos países-membros da União Europeia. França (70), Itália (67) e Roménia (53) são os países mais afetados. Sem qualquer registo está a Dinamarca, a Estónia, a Letónia e também o Chipre e Malta que não tiveram nenhuma catástrofe natural de grandes dimensões em 72 anos. Portugal teve 16 cheias nesse período, se contarmos com as inundações de dezembro de 2022, o que equivale a 3,5% do total europeu.

As cheias e deslizamentos são o fenómeno extremo mais comum na UE e representam 35,5% do total dos desastres naturais registados — 1302, no mesmo período e no mesmo grupo de países. Seguem-se as tempestades (422), as temperaturas extremas (188), os sismos (107), os grandes incêndios florestais (86) e as secas (33).

Entre 2010 e 2019 houve um decréscimo de episódios de cheias, (106) relativamente à década anterior (2000-2009: 154). O ano com mais registos é 2005, com 27 inundações catastróficas em países-membros da UE.

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Catástrofes naturais em Portugal
Registadas entre 1900 e 2022*

*Um episódio é classificado como desastre quando se verifica pelo menos uma das seguintes situações: 10 ou mais mortes diretas; 100 ou mais pessoas afetadas; quando é emitida uma declaração de estado de emergência; quando é feito um pedido de ajuda internacional. EM-DAT


No registo internacional de desastres The Emergency Events Database — EM-DAT estão identificados 59 desastres naturais ou fenómenos extremos referentes a Portugal, entre cheias e deslizamento de terras (15), grandes incêndios florestais (15), tempestades (14), temperaturas extremas (6), sismos (5) e seca extrema (4).

A EM-DAT foi criada em 1988 pelo Centro de Pesquisa em Epidemiologia de Desastres (CRED). Tem mais de 22 mil registos internacionais de grandes desastres naturais desde 1900 à atualidade. O primeiro registo português é de 23 de abril de 1909 e menciona um sismo em Benavente, Ribatejo, onde morreram 30 pessoas.

Em Portugal, as cheias e deslizamentos de terras referem 626 vítimas mortais, entre 1967, ano do primeiro registo, e o mais recente, em 2015 — os episódios da última semana não estão ainda contabilizados. A região de Lisboa e a ilha da Madeira são as mais afetadas.

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Cheias e deslizamentos de terras em Portugal
número de vítimas mortais e de pessoas afetadas*

*Um episódio é classificado como desastre quando se verifica pelo menos uma das seguintes situações: 10 ou mais mortes diretas; 100 ou mais pessoas afetadas; quando é emitida uma declaração de estado de emergência; quando é feito um pedido de ajuda internacional. EM-DAT


As cheias de novembro 1967 destacam-se por terem sido as mais fatais, o número oficial é 467 óbitos, mas o Estado Novo parou prematuramente a contagem dos corpos e a censura dificultou a divulgação real da tragédia. Em 1979 o país assistiu a mais duas grandes cheias: as primeiras, em janeiro, na Madeira, e as segundas, em fevereiro, que afetaram mais as zonas costeiras do Norte e do Centro do país. O número de vítimas mortais, 23, foi bastante menor do que em 1967, mas o número de pessoas afetadas nos dois eventos desse ano foi o maior — 45 mil, entre feridos e desalojados. Em 1981 morreram mais 30 pessoas em Lisboa e arredores e dois anos depois, em 1983, morreram outras 19. Entre os eventos mais dramáticos e mais recentemente, em 2010, morreram 43 pessoas na ilha da Madeira, vítimas das cheias e do deslizamento das terras no Funchal.

Segundo dados da Agência Europeia do Ambiente (EEA), os fenómenos extremos do clima somam 142 mil mortes na Europa entre 1980 e 2020.

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Perdas materiais e humanas pelas cheias
Na Europa, entre 1980 e 2020*

*Cheias e deslizamentos de terra. Agência Europeia do Ambiente


As cheias e deslizamentos de terras são responsáveis apenas por 3% das mortes provocadas pelos desastres naturais na Europa, mas 43% das perdas materiais e dos prejuízos económicos, cerca de €210 mil milhões — dos €487 mil milhões perdidos em 40 anos em todas as catástrofes naturais —, são da responsabilidade dos desastres hídricos.