Em 1952, ano em que a rede ferroviária atingiu o valor máximo, Portugal tinha 3.620 km de linhas férreas. Atualmente tem 2.526 km em exploração e cerca de 332 km de troços desativados foram transformados em ecopistas.

Por onde antes passavam comboios circulam agora pessoas a pé, de bicicleta e de patins, embaladas pela banda sonora da Natureza, sem o barulho de veículos motorizados — aqui interditos. São percursos para fazer sem pressa, onde sabemos de antemão que não vão aparecer subidas íngremes e onde acabamos por relaxar e parar dezenas de vezes — seja para trocar dois dedos de conversa, fotografar paisagens únicas ou até um mergulho nos rios que surgem no caminho.

Veja aqui as 11 ecopistas que o Expresso percorreu. Dos 8 aos 80, não há desculpas para não as conhecer.

João Paulo Galacho, Jaime Figueiredo e João Melancia

Em 1952, ano em que a rede ferroviária atingiu o valor máximo, Portugal tinha 3.620 km de linhas férreas. Atualmente tem 2.526 km em exploração e cerca de 332 km de troços desativados foram transformados em ecopistas.

Por onde antes passavam comboios circulam agora pessoas a pé, de bicicleta e de patins, embaladas pela banda sonora da Natureza, sem o barulho de veículos motorizados — aqui interditos. São percursos para fazer sem pressa, onde sabemos de antemão que não vão aparecer subidas íngremes e onde acabamos por relaxar e parar dezenas de vezes — seja para trocar dois dedos de conversa, fotografar paisagens únicas ou até um mergulho nos rios que surgem no caminho.

Veja aqui as 11 ecopistas que o Expresso percorreu. Dos 8 aos 80, não há desculpas para não as conhecer.

João Paulo Galacho, Jaime Figueiredo e João Melancia



Liga Valença a Monção, num trajeto bem sinalizado de 15km, em piso betuminoso, com um traçado paralelo ao rio Minho, embora só perto de Lapela se aproxime verdadeiramente da margem deste rio de fronteira. Atravessa uma zona bastante povoada, com alguns cafés, onde podemos abastecer-nos. Em Valença, o início da ecopista está a 500 metros da estação ferroviária da cidade, junto ao Lidl local. A Linha do Minho, que liga o Porto a Valença, inaugurada em 1882, foi prolongada até Monção em 1915. Em 1989 foi encerrado este troço final entre Valença e Monção, que deu origem à ecopista, aberta em 2004. O centro histórico de Monção merece uma visita atenta, e a cerca de 5 km encontra-se o imponente Palácio da Brejoeira, um ícone minhoto. Construído em estilo neoclássico, está inserido numa propriedade com cerca de 30 hectares, ocupados maioritariamente por vinha, um bosque e bem cuidados jardins. Podem ser feitas visitas guiadas e provas do famoso Alvarinho ali produzido.

Responsive image
Responsive image
Responsive image



Liga Famalicão à Póvoa de Varzim, num percurso de 30 km, com início na Rua Daniel Rodrigues, a 1 km da estação. Começa com uma pequena subida, mas depois é quase sempre a descer até à Póvoa. Em setembro de 2020 ainda decorriam obras para finalizar a ecopista, mas a maior parte do troço já tinha um piso betuminoso e estava bem sinalizado. É interrompida por algumas estradas, mas os pilaretes retráteis que anunciam esses cruzamentos minimizam o perigo, apesar de alguns deles estarem deitados e exigirem atenção redobrada para evitar quedas. Atravessa uma zona com muitas casas, que alternam com grandes milheirais e inúmeras vacarias, que se adivinham pelo cheiro. Esta ecopista é um sucesso, que se afere pelas muitas pessoas que ali fazem exercício. Era um ramal da Linha Porto-Póvoa, inaugurado em 1881 e desativado em 1995. Perto do quilómetro 17 está a interessante igreja românica de São Pedro de Rates e, claro, é imperdível ir ver o mar à chegada à Póvoa. Seja para petiscar algo nas esplanadas à sua beira ou para dar um mergulho.

Responsive image
Responsive image
Responsive image


Liga Fafe a Guimarães, num caminho de 14 km em piso betuminoso. O traçado é muito sombreado e, talvez por atravessar zonas muito habitadas, veem-se muitos utilizadores. Existem várias zonas de descanso, algumas delas com chafariz, a sinalização é boa e basicamente pode dizer-se que no primeiro terço desce-se, no segundo sobe-se e no terceiro volta a descer-se. Por ter um declive favorável e por ser mais fácil descobrir o quilómetro zero, que fica no parque da cidade, é aconselhável partir de Fafe — em Guimarães acaba a 3 km do centro, na freguesia de Mesão Frio, onde é mais confuso chegar. A ecopista era o último troço da Linha de Guimarães, que ligava o Porto a Fafe. Abriu em 1907 e foi desativada em 1986. Em 1999 ficou pronta a ecopista. Duas sugestões: no fim da grande descida de Fafe, junto ao complexo turístico de Rilhadas, passa um límpido rio, onde se pode tomar banho; e as muitas esplanadas do bonito centro histórico de Guimarães são uma boa opção para relaxar e petiscar qualquer coisa.

Responsive image
Responsive image
Responsive image
Responsive image


Liga Amarante ao Arco de Baúlhe, no concelho de Cabeceiras de Basto, num percurso de 39 km em piso betuminoso, excetuando um pequeno troço de 4,5 km em terra batida, entre Chapa e Codeçôso, por sinal um dos mais bonitos de toda a pista. Com o rio Tâmega a serpentear pelo vale e com a montanha/pirâmide perfeita do Santuário da Senhora da Graça quase sempre no horizonte, este itinerário encontra-se indiscutivelmente no top 3 das ecopistas portuguesas. O ramal da Linha do Tâmega ligava a Linha do Douro a Arco de Baúlhe, onde chegou em 1949. No troço da ecopista — finalizada em 2013 —, o tráfego ferroviário foi desativado em 1990. Destaque para as imponentes pontes de Santa Natália e de Matamá, o túnel do Gatão e as inúmeras estações ao estilo ‘português suave’. Por aqui, os velhos e icónicos avisos “Pare, escute, olhe”, que vemos ao longo do traçado, mantêm-se atuais. Já não alertam para o perigo de se ser atropelado por um comboio, mas sim para se estar atento à beleza que nos rodeia.

Responsive image
Responsive image
Responsive image
Responsive image
Responsive image
Responsive image


Liga Vila Real a Vidago, numa extensão de 51 km. A partida da estação de Vila Real não está assinalada, mas conseguimos perceber que um beco, no seguimento lógico de onde passavam os carris para norte, é o caminho. Necessitamos de alguma intuição para seguir a ecopista, mas passados 17 km de terra batida — sempre em subida suave — chegamos ao piso betuminoso do excelente troço de Vila Pouca de Aguiar. À entrada da vila, o trilho desaparece e temos de procurar o campo de futebol, onde recomeça. Daqui é sempre a descer e rapidamente estamos nas imensas retas paralelas à EN2, depois de Pedras Salgadas. Ao quilómetro 43 entramos no concelho de Chaves, voltamos à terra batida, e depois da estação de Loivos temos de fazer um gancho à esquerda para descer até Vidago. A Linha do Corgo foi terminada em 1921, encerrada em 2009 e tinha 96 km. A não perder: em Vila Real, por baixo de um miradouro a 250 metros da estação, começa um carreiro que desce até ao rio Corgo, onde há uma cascata e uma lagoa espetaculares.

Responsive image
Responsive image
Responsive image
Responsive image
Responsive image
Responsive image


Começa 2 km antes de Carviçais (Torre de Moncorvo) e acaba no Pocinho (Vila Nova de Foz Coa), 36 km depois, num trajeto onde a única subida, com 2 km, acontece a cerca de 5 km de Carviçais. O resto do caminho é praticamente sempre a descer, com um desnível bastante incomum. O piso é de saibro compactado e existem alguns painéis informativos — algo degradados — e várias zonas de descanso, algumas com chafariz. A estação de Larinho, recuperada, alberga um café. Claramente no top 3 das ecopistas, está situada numa zona pouco povoada. Por vezes vislumbram-se ao longe os famosos Lagos do Sabor — que merecem uma visita mais atenta —, e entre Moncorvo e o Pocinho entramos no encantatório reino dos vinhedos do Douro. A Linha do Sabor foi inaugurada em 1938 e ligava o Pocinho, na Linha do Douro, a Duas Igrejas, nos arredores de Miranda do Douro, durante 105 km. Encerrou em 1988. Existe outro troço, já recuperado, entre Duas Igrejas e Sendim, com uma extensão de 14 km.

Responsive image
Responsive image
Responsive image
Responsive image
Responsive image
Responsive image


Liga Fontelas do Vouga ao Carvoeiro, num percurso de 13 km. Os primeiros 10,5 km, no concelho de Sever do Vouga — o único município que já completou a ecopista —, são em piso betuminoso e têm alguns painéis informativos. O único senão são os troncos de madeira amovíveis, que impedem o acesso de veículos motorizados à pista mas que, quando removidos, deixam um buraco que pode originar quedas. O caminho é sempre a descer — vence um desnível de 200 metros —, passa por seis túneis e tem como grande atração a icónica ponte sobre o rio Vouga, no Poço de São Tiago. É neste local, ao quilómetro 7, que começa o troço mais bonito, pois a partir daí temos sempre o rio à vista, com uma estrada de permeio. Os últimos 2,5 km são em terra batida, já no concelho de Águeda. A Linha do Vouga ligava a Linha do Norte, em Espinho, à Linha do Dão, em Viseu, numa extensão de 140 km, e foi concluída em 1914. Atualmente, o comboio ainda circula nos primeiros 61 km, até Sernada do Vouga — o célebre Vouguinha —, mas o resto do trajeto foi encerrado em 1990.

Responsive image
Responsive image
Responsive image
Responsive image


Liga Santa Comba Dão a Viseu, num percurso de 49 km. O excelente piso betuminoso está pintado de cores diferentes, distinguindo assim os territórios dos três municípios que concretizaram a obra: Santa Comba Dão é azul, Tondela é verde e Viseu é vermelho. O trajeto é em grande parte sombreado por frondosas árvores e nele destacam-se inúmeras trincheiras — grandes valas escavadas nas elevações do terreno —, dois túneis e quatro pontes de ferro, as soluções usuais para nivelar as vias férreas. A Linha do Dão, ou Ramal de Viseu, que confluía na Linha da Beira Alta em Santa Comba Dão, começou a operar em 1890 e foi encerrada em 1989. Em 2011 foi inaugurada a ecopista. O troço entre Santa Comba Dão e Tondela (20 km) é feito em plena Natureza; de Tondela a Viseu (29 km) já se nota a ocupação humana. Na estação de Torredeita, a 13 km de Viseu, está exposta uma antiga locomotiva a vapor atrelada a três carruagens, que merecem uma visita. Este itinerário está no top 3 das ecopistas portuguesas.

Responsive image
Responsive image
Responsive image
Responsive image
Responsive image


Liga Pinhal Novo à antiga estação do Montijo, num trajeto de 12 km. Junto à gare de Pinhal Novo não há indicações, mas seguindo paralelamente à linha férrea, no sentido do Barreiro, a 350 metros encontra-se o início da ecopista. É uma estreita via de piso betuminoso, que no troço do Montijo está pintada de rosa forte e é bastante frequentada por caminhantes e ciclistas. É cruzada por várias estradas, devidamente assinaladas por pilaretes de segurança, e desce ligeiramente no sentido do Montijo. O Ramal do Montijo, que entroncava na Linha do Sul, foi inaugurado em 1908, encerrou em 1989 e foi das poucas linhas construídas por iniciativa de autarquias — neste caso, Montijo e Palmela. Já perto do fim, o icónico depósito de água da Mundet, que foi a maior empresa corticeira do país, lembra-nos que circulamos numa zona com um vincado passado industrial. A sugestão passa por visitar os núcleos museológicos desta fábrica, dar um saltinho à beira Tejo, petiscar num dos muitos restaurantes da zona e voltar saciado a Pinhal Novo.

Responsive image
Responsive image
Responsive image
Responsive image


Liga a antiga estação de Montemor-o-Novo a Torre da Gadanha, num percurso muito agradável de cerca de 13 km. Os primeiros 4 km são a subir, em piso betuminoso, e os restantes são feitos em grandes retas de terra batida — essencialmente planas — que rasgam um bem preservado montado de sobro e azinho. Existem muitos painéis informativos e algumas zonas de descanso, mas a falta de manutenção é evidente. Este antigo ramal, que ligava Montemor à Linha do Alentejo, foi inaugurado em 1909 e desativado em 1989, tendo a ecopista sido inaugurada em 2009. O viaduto de ferro que vence o cavado vale do rio Almansor, a cerca de 1 km do início do itinerário, é a grande obra de arte desta antiga linha férrea. É nas imediações deste viaduto que se desfruta de uma das vistas mais bonitas da ecopista, com as ruínas do castelo de Montemor a encimarem o casario da cidade. Mas o grande encanto deste traçado é a paz e o sossego que nos invade enquanto pedalamos neste icónico montado alentejano.

Responsive image
Responsive image
Responsive image
Responsive image



Atualmente tem 32 km, que ligam Évora ao antigo apeadeiro de Vale de Paio, Arraiolos, onde uma tosca vedação a toda a largura da trincheira impede a passagem. A pista começa na Rua de Timor, em frente ao restaurante A Cozinha da Carmo, e a única indicação é um sinal de trânsito azul, que nos indica que vamos entrar numa via reservada a peões e bicicletas. Os primeiros 4 km são nos arrabaldes de Évora, em piso betuminoso, e os restantes em terra batida, através das imensas planícies alentejanas, sendo que há troços onde o piso está em mau estado. Perto das estações de Graça do Divor e Arraiolos e no apeadeiro de Vale de Paio passa a estrada N370, mas no resto do caminho rola-se em plena Natureza, longe de tudo e de todos. O Ramal de Mora, que ligava Évora a Mora ao longo de 60 km, foi concluído em 1908 e encerrado em 1990. Ao quilómetro 30, junto a uma ponte que atravessa a ribeira do Divor, estão os moinhos do Rebocho e junto a eles uma pequena cascata que alimenta uma bonita lagoa onde se pode dar um bom mergulho.

Responsive image
Responsive image
Responsive image
Responsive image

E o futuro?


AS ECOPISTAS QUE SE SEGUEM

As linhas da rede ferroviária nacional pertencem ao Estado — salvo alguns pequenos troços que foram alienados no passado a vários municípios — e são geridas pela Infraestruturas de Portugal-Património (IP-P). A boa notícia é que há um conjunto de novas ecopistas a ser lançadas, onde estão previstos 472 km, que aumentarão a rede nacional para 804 km. Tanto as ecopistas já operacionais como as que aí vêm resultam de parcerias entre Municípios/Comunidades Intermunicipais (CIM) e a IP-P, que através de contratos de subconcessão lhes cede o uso destes bens do Domínio Público Ferroviário, condicionando-os a uma prévia análise dos planos e ao acompanhamento da sua execução e manutenção.

Entre estes novos projetos destaca-se a ecopista da Grande Rota do Montado (GRM), que prevê recuperar a totalidade das antigas linhas ferroviárias do Alentejo Central (190 km), conhecidas por “Estrela de Évora”, cidade de onde irradiavam os ramais de Montemor, Mora, Vila Viçosa e Reguengos, que lhes conferiam o aludido formato de estrela. Neste momento já é possível percorrer o ramal de Montemor-o-Novo e parte do de Mora. Encontra-se ainda a decorrer o concurso público para a execução da primeira fase da GRM, mas, segundo as CIM do Alentejo Central, “é expectável que no início de 2022 já se possam iniciar alguns dos troços”. Também no Alentejo, a Ecopista do Ramal de Portalegre, que ligava esta cidade a Estremoz, numa extensão de 62 km, tem já ativo um troço de 14 km, entre Fronteira e Cabeço de Vide, não havendo ainda uma data prevista para a conclusão dos 48 km que faltam

Rumando a norte, a Ecopista do Antigo Ramal da Figueira da Foz (49 km), que ligava esta cidade à Pampilhosa, já tem o projeto de execução concluído e aprovado, sendo o prazo de conclusão das obras de 18 meses, o que atira a sua inauguração para meados de 2022. Esta ecopista assume uma importância especial, pois a sua ligação à Ecovia do Mondego — que já está em fase de obra — vai permitir um trajeto contínuo que se estenderá até à Ecopista do Dão. Estabelecerá também, a partir da Figueira da Foz, a ligação à Rota Eurovelo 1-Rota da Costa do Atlântico, uma enorme rede europeia de ciclovias, que em Portugal pretende ligar toda a costa, desde Vila Real de Santo António a Caminha, e que já tem muitos troços a funcionar

A Ecopista do Vale do Vouga, que vai ligar Sernada do Vouga a Viseu (69 km), tem os cerca de 10km de Sever do Vouga já prontos; os 4 km de Águeda já se podem fazer desde Sernada do Vouga até à Foz, embora ainda não estejam devidamente recuperados — prometendo a Câmara para breve a sua requalificação. Os restantes 55 km, que atravessam o território da CIM de Viseu, Dão e Lafões, nos municípios de Oliveira de Frades, Vouzela, São Pedro do Sul e Viseu, estão já em obra, com conclusão prevista para maio de 2022. Nesta altura, as ecopistas do Vouga e do Dão vão unir-se em Viseu, somando um total de 128 km, tornando este corredor na maior ecopista contínua da Península Ibérica.

Em análise entre a IP-P e os diferentes municípios, ainda sem datas previstas para entrarem ao serviço, encontram-se a Ecopista do Tua (75 km), a ser construída pelas Câmaras de Mirandela, Macedo de Cavaleiros e Bragança e que vai ligar Mirandela a Bragança, o que resta da Ecopista do Sabor (55 km), entre Sendim e Carviçais, e os 45 km da Ecopista do Corgo ainda em falta, que se dividem entre os 25 km que ligam Peso da Régua e Vila Reale os 20 km entre Chaves e Vidago.