Quantas vezes tomamos a areia pelo deserto? Dias houve, num tempo antes deste tempo, em que nos impressionava o som dos nossos passos ecoando numa rua que, por sorte ou sem razão, encontrávamos vazia. Os olhos tiravam as medidas à ausência para que a mente a tentasse preencher com vida e pessoas e som. Tudo chegaria, mais cedo ou mais tarde. E aquele instante cheio dessa misteriosa areia do tempo desapareceria levado pelo vento, deixando para trás apenas a estranha saudade de um segundo. Era uma memória para partilhar com os amigos incrédulos. É, agora, um postal ilustrado que se vai desfazendo nas nossas mãos. Atordoados pela dúvida e pelo medo, começamos a perceber que, depois de atravessar o deserto, nunca mais conseguiremos olhar para a areia da mesma forma
Fotografia Rui Duarte Silva Texto Ricardo Marques
Estas fotografias foram captadas na cidade do Porto antes da pandemia,
entre o fim de 2019 e o início de 2020.