'Rasgar' Portugal ao meio, com uma estrada equidistante das fronteiras marítima e terrestre, foi a ideia fundadora. Nunca alcançou o êxito vaticinado, foi 'engolida' nalguns troços por novas estradas, noutros 'despromovida' a Regional, mas ressurgiu nos últimos tempos mais viva do que nunca. Acompanhe-nos ao longo dos 739,26 km da EN2
Chaves, a cidade onde se inicia a Estrada Nacional 2, não ficou fora do nosso roteiro e foi lá, que logo de manhã cedo, demos o primeiro passeio para esticar as pernas, pensando já nas muitas horas que vamos passar sentados nesta viagem. A viçosa zona ribeirinha do Tâmega, as varandas de madeira do centro histórico e a zona envolvente do castelo, sobressaem nesta mimosa cidade transmontana.
A primeira paragem é em Vidago, decorridos cerca de 18 quilómetros, feitos num bom piso, que corre no seio de um largo e fértil vale. O Vidago Palace Hotel, com os seus cuidados jardins, é o segundo encanto deste primeiro dia. É um imponente palacete histórico de luxo, ao estilo Belle Époque, recheado de mobiliário dessa época, mas onde não falta o conforto dos luxos modernos. Mais 14 quilómetros e estamos no Parque Termal de Pedras Salgadas, onde brota a famosa água naturalmente gaseificada, a que todos nós já recorremos em casos de azia e/ou má disposição. Ainda hoje, a população desta localidade tem direito a uma quantidade predefinida de garrafas desta água todos os anos, por vontade expressa em testamento do antigo proprietário dos terrenos, que também decretou que o parque tem de estar aberto gratuitamente a todos. É também no interior deste parque, que estão implantadas as famosas 'Tree Houses'.
A partir de Covelo, o largo vale por onde circulámos até agora, começa a estreitar, as curvas sucedem-se e as subidas tornam-se mais frequentes, com as alturas do Alvão já a espreitar do lado direito. Almoçamos no centro histórico de Vila Real, por esta altura esventrado por obras de requalificação e seguimos caminho, com as vinhas do Douro a começarem a anunciar-se.
A próxima paragem é perto do quilómetro 62, num miradouro improvisado numa grande placa de betão duma casa inacabada, com um largo em frente onde se pode estacionar. É um dos horizontes mais bonitos deste dia, com uma sucessão de cabeços forrados de geométricas vinhas e alguns olivais de permeio.
Quando começamos a ver o rio Douro a serpentear lá em baixo no vale, percebemos que o nosso destino de hoje, Peso da Régua, se aproxima e aproveitamos os últimos quilómetros para nos reclinarmos nos confortáveis bancos do autocarro, enquanto vemos passar pela janela as incontáveis vinhas do Douro, uma das mais impressionantes paisagens da N2.
Jantamos na Quinta da Pacheca, em Peso da Régua, e fazemos uma visita às também famosas 'Casas dos Barris de Vinho', que brilham ainda mais com a bonita luz do fim deste dia, o primeiro. Amanhã há mais.
José Pedro Vilas Boas videógrafo e fotógrafo, foi o convidado do dia.
Entramos na Beira, saídos de Peso da Régua, subindo entre os vinhedos da margem esquerda do Douro, num troço com muitas curvas e contracurvas, que nos leva até Lamego, onde fazemos a primeira paragem do dia. O ex-líbris da cidade, a cénica escadaria do Santuário de Nossa Senhora dos Remédios, desafia-nos a subir os 686 degraus que nos levam até à sua igreja, mas não desanimem os que não se sentem capazes deste esforço físico: há uma estrada, por onde os carros podem subir a colina, até ao topo do bonito monumento barroco, que visto de cima é ainda mais impressionante.
A partir de Lamego, despedimo-nos da geometria dos vinhedos durienses, substituídos agora por matos e arvoredos desordenados, que ladeiam a sinuosa estrada, que sobe o vale do rio Balsemão até às alturas da serra de Montemuro. De Mezio até perto de Castro Daire circulamos no imenso planalto, com a A24 a correr paralela durante umas dezenas de quilómetros e por esta altura já começamos a ver as placas de sinalização, que anunciam a proximidade de Viseu, a última grande cidade por onde vamos passar até chegar a Faro – o que explica, em parte, o fiasco da mais longa estrada do Estado Novo, planeada para ser uma jugular do Plano Rodoviário Nacional em 1945, mas que nunca o chegou a ser: sem passar nas maiores cidades do país, que ao longo dos anos foram atraindo mais e mais população, dificilmente poderia atingir os níveis de tráfego previstos.
Almoçamos em Viseu, passeamos no seu preservado centro histórico, tiramos as fotos da praxe na vetusta Sé e seguimos caminho. Agora com duas faixas, atravessando as muitas rotundas plantadas na malha suburbana desta cidade. Com atenção às placas de sinalização, que não deixam de assinalar a N2, conseguimos perceber a altura certa para sairmos destas vias rápidas e entrarmos no antigo e sinuoso traçado, que segue paralelo ao IP3 até Santa Comba Dão.
A cidade estigmatizada como a 'terra de Salazar', é uma agradável surpresa, com uma ribeira e várias levadas a atravessarem o pequeno centro, criando agradáveis áreas de descanso e recreio. A dormida e o jantar são junto à barragem da Aguieira, com vistas privilegiadas para o espelho de água que represa as águas dos rios Mondego e Dão.
Inês Costa Monteiro, fotógrafa profissional, foi a convidada do dia.
A praia fluvial de Reconquinho, nas margens do Mondego, em frente a Penacova, é a primeira paragem do dia. Espera-nos um passeio numa barca serrana, réplica das muitas embarcações que antigamente desciam o Mondego desde a foz do Dão até ao mar na Figueira da Foz e que garantiam o escoamento dos produtos agrícolas do interior. Este rio era então a 'autoestrada' natural desta região e as barcas os camiões, que para além de não poluírem, não precisavam de gastar dinheiro a atestar os depósitos para chegar ao seu destino.
De seguida saímos momentaneamente da N2, por uma estrada que sobe até ao topo da serra de Gavinhos, atraídos pelas vistas que de lá se alcançam e pela dezena de moinhos, alguns ainda a funcionar, que ali se implantaram. De volta à rota certa, rapidamente chegamos a São Miguel de Poiares, onde almoçamos. Segue-se a simpática vila de Góis, banhada pelo rio Ceira, conhecido na antiguidade pelo muito ouro que o seu leito arrastava e pelas boas trutas que lá se pescavam. Voltamos a sair da N2, num desvio de 12 quilómetros até Aigra Nova, a 'Aldeia do Xisto' que se encontra a maior altitude (770 metros) e uma das mais bem preservadas desta conhecida rede de aldeias. De volta à N2, as sucessivas curvas da serra da Lousã – um dos troços mais sinuosos de toda a viagem –, inebriam-nos com o agradável perfume dos omnipresentes eucaliptos o que nos leva, por instantes, a esquecer o perigo de incêndio que representam.
Aproxima-se a descida para Pedrogão Grande, aparecem as primeiras grandes áreas de floresta ardida e logo depois, uma das localidades mais mencionadas da N2, que dá pelo nome de Picha, a que se segue Venda da Gaita, sequência nominativa que nos deixa a pensar na malandrice de quem batizou estas localidades. A barragem do Cabril, que represa o Zêzere e é uma das maiores reservas de água doce de Portugal, é a próxima paragem, breve, que a Sertã, onde vamos terminar o dia e jantar, já está perto.
João Amorim, líder de viagens e fotógrafo, foi o convidado do dia.
Começamos o dia com um pequeno desvio até à praia fluvial de Trízio, num dos braços da albufeira de Castelo de Bode, onde Francisco Lopes, professor na Endless Wakeboard, vice campeão mundial master de wake e ex-campeão Nacional de wakeboard – uma espécie de ski aquático que usa uma prancha tipo snowboard – está à nossa espera para experimentarmos a sua modalidade de eleição. Quatro corajosos avançam para o barco que os irá puxar pelo tranquilo espelho de água, metade consegue erguer-se sobre a prancha e deslizar, a outra metade... dá uma série de tombos consecutivos. Salvou-se a exibição final do Francisco, recheada de piruetas mirabolantes e a opção do resto do grupo, que ficou em terra e aproveitou para repor energias – os dias têm sido muito intensos. Escusado será dizer quais deles passaram os dois dias seguintes a queixarem-se de dores nos braços.
De volta à N2, que por esta altura é mais um IP, com vários troços a terem duas faixas, rapidamente chegamos ao picoto da Melriça, o Centro Geodésico de Portugal Continental. É um dos pontos mais simbólicos desta estrada, por significar o meio do caminho, mas também a equidistância exata entre as fronteiras oceânica e terrestre.
Logo depois de passarmos Vila de Rei, aparece uma placa a indicar Penedo à esquerda, retificada por outra a 100 metros que acrescenta Furado ao Penedo, que é o nosso próximo destino. Um penedo efetivamente furado, uma praia fluvial, duas bonitas cascatas, as únicas que vimos em toda a N2 e uns passadiços recentes – que seguiram a moda alicerçada na fama que os passadiços do Paiva alcançaram, mas que aqui são completamente desnecessários, pois o caminho antigo levava-nos em segurança às cascatas – são motivos mais do que suficientes para parar
A estreita estrada que nos levou ao Penedo Furado é a antiga N2, como se comprova pelos marcos nas suas bermas, e leva-nos, numa sucessão de curvas e contracurvas até Abrantes. Mas quem tenha pressa, pode sempre voltar a Vila de Rei e ao moderno IP, que também está identificado como... N2.
A próxima paragem é Abrantes, onde almoçamos, passamos a ponte sobre o Tejo e entramos no Alentejo, que já se vinha anunciando com o 'aplanamento' da paisagem. Circulamos cerca de 15 quilómetros nas margens da barragem de Montargil, onde fazemos uma breve pausa, passamos Mora, que marca a passagem da categoria desta estrada de Nacional para Regional – o que se nota imediatamente pela qualidade e largura do piso – e chegamos ao nosso destino, Montemor-o-Novo, onde vamos dormir.
Miguel Lopes, fotógrafo profissional, foi o convidado do dia.
O dia inicia-se com um passeio nas ruínas monumentais do castelo de Montemor-o-Novo, de onde se desfrutam vistas únicas sobre a planície alentejana, cenário que nos vai acolher nos próximos dias. No castelo, destaque para a torre do Relógio, coroada com um pequeno campanário de cinco torres cónicas, de evidente influência mudéjar, o ex-líbris da cidade, visível a muitos quilómetros de distância.
Daqui rumamos a Torrão, uma simpática freguesia encravada entre os distritos de Setúbal – a que pertence –, Beja e Évora e onde são evidentes as consequências que a popularidade da Estrada Nacional 2 lhe trouxe: neste momento já existem 4 unidades de alojamento e vários restaurantes, onde é possível comprar recordações da rota, incluindo o famoso Guia Amarelo, que não tinha conseguido comprar em Lisboa. Almoçamos por aqui e confirmo com Hélder Montinho, o presidente da Junta de Freguesia, o que já tinha intuído: “A N2 foi ótima para nós. Todos os dias temos gente em trânsito, muitos param, alguns comem ou compram qualquer recordação e cada vez mais dormem”.
Com o estômago reconfortado com a genuína comida alentejana, voltamos para trás, para Alcáçovas – a terra dos chocalhos–, onde tínhamos combinadas várias visitas guiadas da parte da tarde. Começamos pelo paço dos Henriques e pela sua surpreendente e encantadora capela de Nossa Senhora da Conceição, inteiramente forrada a conchas; logo ali ao lado está o museu do Chocalho, onde os podemos apreciar de todos os tamanhos e feitios e, já fora do centro, está a fábrica Pardalinho que os manufatura. Uma grande bigorna, um enorme alicate de cortar chapa e um pesado martelo, moldam em minutos um chocalho a partir de um retângulo de metal. Marteladas certeiras, potentes e sai mais um, que depois ainda vai ser acabado noutras fases – a mais impressionante usa um forno, que quando foi aberto, obrigou os mais próximos a recuar meia dúzia de passos pelo efeito da onda de calor libertada. Uma pequena e próspera indústria, salva da decadência em que se encontrava pela certificação dada pela UNESCO em 2015, que declarou os chocalhos como Património Cultural Imaterial.
Dormimos no Alvito, num desvio à N2, na mira de aproveitarmos o charme do seu castelo/pousada e do seu centro histórico, para uma sessão de fotografia noturna.
Filipe Pinhas, fotógrafo profissional, foi o convidado do dia.
Hoje o dia decorre no coração do Alentejo, rodeados de planícies douradas pelos pastos secos, entrecortadas por manchas verdes de olivais e de amendoais – a cultura mais recente desta zona –, pintalgadas a espaços pelo amarelo forte dos campos de girassóis, mas com raras casas no horizonte. Estamos numa das zonas mais despovoadas de Portugal, que contrasta fortemente com Trás-os-Montes e as Beiras e é neste cenário, que dou por mim a pensar na incrível diversidade de Portugal, tão bem evidenciada nesta estrada. Ao fazermos a N2, atrevo-me mesmo a apontar a consciência que ganhamos de quão diferente o país é, como a principal razão da sua popularidade atual, que nunca se verificou enquanto foi entendida como uma via estruturante.
Mas chega de considerações teóricas, que este dia foi tão preenchido como os outros e há que fazer o registo do que fizemos: começámos por visitar o lagar do Marmelo, nas imediações de Ferreira do Alentejo, um 'edifício de autor', com obras de arte no interior, implantado no meio de um grande olival; não resistimos a parar num campo de girassóis, que coisa mais fotogénica é difícil de encontrar no meio de uma estrada; almoçámos em Ferreira do Alentejo e rumámos às minas de Aljustrel, onde tivemos por guia um filho e neto de mineiros. Nesta exploração extrai-se sobretudo zinco e cobre, numa atividade que remonta aos tempos do império romano e se prolonga até aos dias de hoje, sendo a maior empregadora desta zona com cerca de 1200 trabalhadores.
Atualmente, a esperança de vida dos mineiros já subiu um pouco dos 62 anos, já não se vislumbram tantas mulheres de negro pelas esquinas da vila e já há perfuradoras operadas por joysticks. “Ainda outro dia houve uma derrocada e a máquina ficou debaixo dos escombros, €2 milhões à vida, mas o trabalhador, que a operava à distância, safou-se”, conta-nos o guia.
Jantámos em Castro Verde e fizemos um pequeno desvio à N2 para ir dormir a Monte do Guerreiro, localidade no 'meio do nada', como sói dizer-se. Foi de longe o céu mais repleto de estrelas que vimos até agora nesta viagem e só faltou uma estrela cadente, que ansiávamos ver e não vimos. Cada um de nós tinha um desejo que se realizaria à sua passagem, mas isso são crendices a que devemos dar uma importância relativa, sobretudo quando sabemos que os deuses da Nacional 2 têm estado connosco. E é sabido que o poder de qualquer Deus, é sempre superior a um raio de luz no firmamento.
Marta Ferreira, designer e fotógrafa, foi a convidada do dia.
Iniciamos cedo a derradeira etapa, que a vontade de chegar ao fim impõe-se, passamos pela última vila alentejana deste roteiro, Almodôvar e fazemos a primeira pausa logo depois, ao km 666, não vá o diabo tecê-las e ficar zangado por nem termos parado no marco que ostenta o que dizem ser o seu número.
Por esta altura já vemos no horizonte uma sucessão de cabeços arredondados – os cerros –, a imagem de marca da sui generis serra do Caldeirão, que marca o fim das grandes planícies alentejanas e a entrada no Algarve. Há até quem chame a esta serra o terceiro Algarve, sendo o segundo o barrocal e o primeiro o litoral das multidões. Alguns dos (poucos) habitantes destes cerros, na defesa de uma identidade própria, até costumam dizer: “Nós não somos nem alentejanos nem algarvios, somos serrenhos”. Polémicas à parte, o que sabemos de fonte segura, é que são as serras algarvias que condicionam o ameno clima de características mediterrânicas do litoral algarvio, ao formarem uma barreira física que impede a passagem dos ventos frios do Norte. Entremos então na última serra desta viagem, não sem antes avisarmos os mais dados aos enjoos, que os esperam 365 curvas até chegarem ao barrocal.
Sem mossas na comitiva, onde os mais sensíveis tomaram atempadamente o milagroso comprimido para o enjoo, aproximamo-nos rapidamente da rotunda de Faro, onde está o último marco desta estrada. Que é uma desilusão, tal como tinha sido o primeiro em Chaves: estão ambos no centro de vulgares rotundas, onde precisamos de atravessar movimentadas vias de trânsito para tirarmos as simbólicas fotografias ao lado dos marcos, o que não dignifica esta rota que atrai cada vez mais pessoas. Mas aqui chegados, compreendemos a teoria do jovem escritor Afonso Reis Cabral, um dos primeiros a fazer esta estrada a pé: “A N2 é o percurso mais longo, em Portugal, para irmos (...) à praia”. E foi o que alguns de nós fizemos. Percorremos mais 8 quilómetros e fomos dar o simbólico mergulho à praia da ilha, que nos soube pela vida. O almoço de despedida foi no centro histórico de Faro, brindámos uma última vez ao grupo, que se consolidou como tal nesta viagem, à Nacional 2 e demos graças por ter corrido tudo bem, com a sensação de que Portugal continental não se esgota no litoral. O interior é definitivamente uma joia a explorar.
Andreia Costa, designer, gestora de redes sociais e fotógrafa, foi a convidada do dia.
O marco zero da mítica Estrada Nacional 2 está cravado no centro de uma vulgar rotunda, no interior da cidade de Chaves, onde (praticamente) todos os que iniciam este percurso vão tirar a foto da praxe. Este começo não é muito auspicioso, pois tem de se atravessar uma movimentada faixa automóvel, sem passadeira, para aceder ao marco.
Mas, ultrapassada esta dificuldade, os saltos mortais à retaguarda do João Kopke, de cima do bloco de cimento do marco zero, vaticinaram logo uma aventura diferente, com muito boa onda – ou não fosse o multifacetado João uma figura emblemática do surf nacional, que também se apresenta como storyteller, músico, fotógrafo e viajante e que, nesta viagem, assumiu ainda a função de curador.
João Bernardino, fotógrafo e designer, o outro curador, não arriscou mortais à retaguarda, mas revelou-se a principal referência profissional desta aventura, ao mesmo tempo que foi o maior responsável – desculpa João, mas é verdade – pelas poucas horas de sono da comitiva: “Amanhã saímos às 5h para fotografarmos com a luz do amanhecer”. E, num grupo apaixonado pela fotografia, conseguiu sempre compinchas – apesar de algumas noitadas, onde as interessantes/inesquecíveis conversas, acompanhadas por um bom vinho branco, se prolongaram algumas vezes até quase à hora... de sair da cama para ir ver nascer o Sol.
O nosso transporte, um autocarro de 19 lugares, que nunca excedeu 50% da lotação, revelou-se a escolha acertada, porque nos permitiu ver a paisagem de uma posição mais elevada, relativamente aos carros, às motos e às bicicletas, os meios maioritariamente usados para percorrer a N2.
Em cada etapa houve um fotógrafo convidado que, com o seu olhar, as suas técnicas e os seus gostos próprios, contribuiu inegavelmente para fazer subir a fasquia de qualidade das imagens captadas.
Depois houve os alojamentos, sempre em sítios de referência, criteriosamente escolhidos, bem como as lautas refeições, que deixaram a maioria a queixar-se de que, quando chegassem a casa, o teste da balança iria ser uma desagradável surpresa – o que rapidamente esquecíamos quando nos apresentavam (só) mais uma iguaria regional.
Referência ainda para a disponibilidade dos autarcas locais, sempre prontos para nos abrirem uma porta, para nos levarem aquele sítio especial, bem como o orgulho que vimos estampado no rosto das pessoas com quem nos cruzámos, por habitarem e/ou trabalharem à beira da N2, estivessem elas num restaurante, num museu, numa fábrica, ou simplesmente a andar na rua. E em matéria de referências, destaque para o profissionalismo da incansável Mafalda, a responsável logística desta viagem, que operacionalizou no terreno toda esta aventura – como é que nunca perdeste a cabeça com as nossas indecisões e atrasos constantes? - e ainda para os jovens Martim, Mateus e Nélson, da equipa de filmagens, um grupo muito unido, que me impressionou pela garra mostrada na arte de captar imagens – malta, estou ansioso para ver os vossos vídeos e fotografias.
O Hugo, da Samsung, o Pedro, da Lift e o Carlos e o Hélder, os motoristas do autocarro, completam o 'ramalhete' de um grupo formado para esta viagem, que revelou um entendimento assinalável, apesar de muitos nem sequer se conhecerem. Terá sido a magia da Estrada Nacional 2 a unir-nos?