Fomos de uma ponta à outra do Tejo e chegámos a uma conclusão perigosa
O Expresso percorreu os 1092 kms doTejo da nascente à foz e encontrou um rio moribundo, poluído e com um caudal cada vez mais fraco
O outono chegou mais quente e menos chuvoso do que o habitual, atingindo Portugal e Espanha em igual medida, num ano que já estava a ser especialmente complicado, com elevadas temperaturas, pouca chuva e secas decorrentes.
Espanha foi assolada por fatídicas ondas de calor e a bater recordes de temperatura; em agosto, Córdoba chegou aos 47,4ºC, a mais alta alguma vez registada no país, um cenário alarmante tendo em conta que mais de 74% do território está em risco de desertificação; o nível das barragens está bastante abaixo da média para esta época do ano e a bacia hidrográfica do Tejo apresentava, em meados de setembro, um valor de água armazenada de 33,5%.
O ano hidrológico acabou a 30 de setembro e Espanha não cumpriu com os caudais anuais nos rios Tejo e Douro. Para minorar problemas de décadas, no final de Setembro o Governo de Pedro Sánchez deu luz verde ao novo plano para a bacia do Tejo que prevê um corte de 40% no volume de água que é desviada pelo transvase Tejo-Segura, para regar as regiões de Almería, Múrcia e Alicante. O plano que será aprovado no final de outubro, ou início de novembro, irá beneficiar debilitadas albufeiras na cabeceira do Tejo com mais 105 hectómetros cúbicos de água a partir de 2027, e Portugal, por arrasto, terá maior fluxo de água a entrar no país. O objetivo é melhorar os caudais ecológicos no rio Tejo e evitar a falha nas cotas da Convenção de Albufeira como está a acontecer.
Em Portugal, este foi o segundo ano com menos chuva desde 1931; na bacia do Tejo, a rudeza do Sol secou dezenas de ribeiras ou reduziu-as a charcos, deixando os rios cada vez mais lentos e a terra com sede. A 19 de setembro as albufeiras estavam a 46,8% da sua capacidade, situação que se manteve inalterada apesar dos elevados níveis de precipitação provocados pela tempestade Danielle. Segundo o PDSI (índice que mede a situação de seca), Portugal está agora com 50,2% do território em seca moderada e 45,9% em seca severa. O stress hídrico mantém-se tal como a dependência da água que passa de Espanha.
E aqui entra o Tejo, que cruza fronteiras e alimenta dois países. Durante o escaldante mês de agosto, o Expresso percorreu os 1.092 quilómetros do rio, desde a nascente até à foz. O que encontrou foi uma miséria: umas vezes esgoto a céu aberto, outras vezes leito de pedras secas, a indiscutível beleza do Tejo arrisca desaparecer se nada for feito para combater o estado moribundo destas águas.
Nascente do Tejo
a Aranjuez
Aranjuez
a Talavera de la Reina
Talavera de la Reina
a Vila Velha de Ródão
Vila Velha de Ródão
a Vila Franca de Xira
Vila Franca de Xira
a Lisboa
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Fontes Sistema Nacional de Informação de Recursos Hidricos (SNIRH), Instituto Português do Mar e da Atmosfera, (IPMA), Boletín Hidrológico Peninsular e Land Viewer
Expresso 2022