Não digam que foi por amor

Em 2019 morreram 32 pessoas em contexto de violência doméstica: 23 mulheres, oito homens e 1 criança. Todas conheciam os homicidas. Estavam ou estiveram com eles unidos por laços de intimidade ou família. Mas a violência quebra tudo, desamarra. Não há sentimentos nobres num crime. Conheça a história de cada uma das vítimas

TextoRaquel Moleiro

Se estiver em risco e precisar de ajuda ligue 800 202 148

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Lúcia Rodrigues

05 JAN

48 anos

Baleada

Lagoa

Lúcia Rodrigues, 48 anos, morreu com um tiro de caçadeira no peito disparado pelo companheiro, Nuno Guerreiro (ou Nuno ‘Alentejano’, como era conhecido), de 42 anos, que se suicidou de seguida com a mesma arma. O crime ocorreu na casa onde viviam juntos há um ano no nº16 da Rua do Infantário, no centro de Lagoa.

Os corpos foram encontrados pouco depois do meio-dia, no interior da moradia, mesmo junto à porta, obrigando os bombeiros voluntários a entrar pela janela, depois de alguns vizinhos terem alertado as autoridades de que estava a escorrer sangue para a rua.

Lúcia trabalhava em limpezas na hotelaria e casas particulares. Nuno, ex-caçador, era cantoneiro na câmara municipal de Lagoa. Estavam juntos há cerca de três anos. Não há registo de queixas prévias de violência doméstica, só relatos de “ciúmes doentios” dele por ela. Lúcia tinha duas filhas, Nuno um filho, todos de relações anteriores.

Luzia Rosado

11 JAN

80 anos

Baleada

Alandroal

Foi em casa de Luzia Ramalho Rosado, de 80 anos, no Monte da Espada, em Terena (Alandroal), que o primeiro duplo homicídio do ano (seriam mais dois até novembro) aconteceu. Joaquim Rodrigues Risso, de 83 anos, matou a tiro a mulher, Maria Eufrásia Rosado Ramalho, da mesma idade, e a sua irmã Luzia, já viúva.

Era uma sexta-feira ainda cedo, estavam os três no Monte da Espada, em casa de Luzia, quando se iniciou uma discussão sobre quando deveriam matar um porco. Elas achavam que devia ser naquele dia, ele queria adiar e marcou a sua posição à força de quatro tiros de pistola, disparando na direção da mulher e da cunhada. Tiveram morte imediata.

O alerta chegou à GNR às 11h57. Foi o próprio Joaquim que ligou a contar o que fizera, mas quando lá chegaram os militares, bombeiros, a ambulância do INEM de suporte imediato de vida de Estremoz e a viatura médica de emergência e reanimação (VMER) do hospital de Évora, já o encontraram também ele baleado mas ainda vivo, com dois disparos na cabeça, saídos da mesma arma, numa tentativa de suicídio após o duplo homicídio. Transferido de helicóptero, em estado muito grave, para o Hospital de Santa Maria, em Lisboa, morreu no bloco operatório.

Maria Eufrásia Rosado

11 JAN

83 anos

Baleada

Alandroal

Joaquim Rodrigues Risso, de 83 anos, matou a tiro a mulher, Maria Eufrásia Rosado Ramalho, da mesma idade, e a irmã desta, Luzia Ramalho Rosado, de 80, viúva, em Terena, no Alandroal (Évora).

Era uma sexta-feira ainda cedo, estavam os três no Monte da Espada, em casa de Luzia, quando se iniciou uma discussão sobre quando deveriam matar um porco. Elas achavam que devia ser naquele dia, ele queria adiar e marcou a sua posição à força de quatro tiros de pistola, disparando na direção da mulher e da cunhada. Tiveram morte imediata.

O alerta chegou à GNR às 11h57. Foi o próprio Joaquim que ligou a contar o que fizera, mas quando lá chegaram os militares, bombeiros, a ambulância do INEM de suporte imediato de vida de Estremoz e a viatura médica de emergência e reanimação (VMER) do hospital de Évora, já o encontraram também ele baleado mas ainda vivo, com dois disparos na cabeça, saídos da mesma arma, numa tentativa de suicídio após o duplo homicídio. Transferido de helicóptero, em estado muito grave, para o Hospital de Santa Maria, em Lisboa, morreu no bloco operatório.

Vera Silva

11 JAN

30 anos

Espancada

Almada

Vera Lúcia Tavares Silva, 30 anos, proprietária de uma loja de roupa e estética, foi violentamente agredida dentro do seu apartamento, no Bairro Cor de Rosa, no Pragal, em Almada. Depois do ataque, ainda conseguiu arrastar-se até às escadas do prédio e pedir ajuda.

Uma vizinha ouviu-a, chamou o INEM, mas Vera morreria horas depois no Hospital Garcia de Orta por falência do baço.

Sem qualquer testemunha da agressão ou avistamento do agressor, foi a autópsia a dar as primeiras pistas para que a Polícia Judiciária de Setúbal chegasse ao autor do homicídio: Vera morreu por agressão a soco e pontapé principalmente na cara, sem recurso a qualquer objeto, provocando-lhe graves lesões na cabeça e deixando-a desfigurada. O ataque revelava “extrema raiva”, o que indiciou desde logo um motivo passional. E sem saber o homicida deixou outra pista para trás: ADN nas unhas de gel de Vera.

O Monte da Caparica despediu-se dela com dezenas de balões brancos lançados ao ar, de noite. Em grande, como ela gostaria.

Quatro meses depois, em maio, Cláudio Quintas, 34 anos, ex-namorado de Vera, foi detido no bairro do Pica Pau Amarelo, no Monte da Caparica. Pintor da construção civil e antigo praticante de boxe, não se conformava com o fim da relação e com um novo namoro de Vera. Na acusação, o Ministério Público (o MP) diz que o agressor arrombou a porta do apartamento e atacou a ex-namorada com murros e pontapés na face, cabeça, tronco e membros inferiores, empurrando-a contra móveis e paredes.

As amigas da vítima dizem que “desde o primeiro telefonema que foi um amor obsessivo”. No despacho, o MP revela que o namoro de três anos foi marcado por violência: Cláudio agredia-a, deixando-a com marcas e nódoas negras, e ameaçava-a. Em 2017, a vítima apresentou queixa por violência doméstica, mas continuou a ser perseguida, com esperas à porta e telefonemas constantes.

Vera deixa dois filhos, de seis e nove anos. Cláudio Quintas ficou em prisão preventiva, acusado de homicídio qualificado, violência doméstica e violação de domicílio.

(Última actualização - janeiro 2020)

Fernanda

17 JAN

71 anos

Baleada

Oeiras

Fernanda, de 71 anos, foi morta pelo marido Rogério, de 70, com um tiro de caçadeira. O homicida suicidou-se de seguida no apartamento onde residiam há pelo menos 40 anos, na Rua Sacadura Cabral, no Dafundo (Oeiras). Ambos reformados, ultimamente discutiam com frequência.

Um dos três filhos (uma filha) falou com eles nessa quinta-feira, de manhã cedo, mas durante o dia não atenderam o telefone. Estranhou, foi lá, e foi ela que os encontrou já sem vida, a mãe sentada no sofá, o pai no chão perto da arma, que usava quando ia à caça. O alerta chegou às autoridades às 16h18, mas quando chegou a VMER da Amadora e os bombeiros do Dafundo já não havia possibilidade de reanimação.

Marina Fernandes

31 JAN

25 anos

esfaqueada

Moimenta da Beira

Marina Mendes (ou Fernandes), 25 anos, foi morta de madrugada na sua casa, em Moimenta da Beira (Viseu), por Carlos Loureiro, 26 anos, bombeiro, com quem tinha tido um breve romance em dezembro. A causa, diz o homicida, foi o receio de que a ex-namorada estivesse grávida e contasse aos companheiros atuais de ambos, como ameaçava fazer. E ele estava noivo e ia casar este ano.

Nessa noite Carlos estava de serviço no quartel. Por volta das duas da manhã ausentou-se, esperou que Marina saísse do bar onde trabalhava e foi até casa dela, um segundo andar na Avenida 25 de Abril, a pouco mais de cem metros dos bombeiros. Discutiram e Carlos apunhalou-a pelo menos sete vezes com uma faca de cozinha, principalmente na zona do pescoço. Foi tal a força que os golpes provocaram a rutura do esófago e a laceração quase total da laringe, detalha a acusação. E provocaram-lhe a morte, no chão da cozinha.

Cinco horas depois seria aí encontrada pela irmã, que dormia num apartamento no andar de baixo com os dois filhos de Marina. Ouviu gritos, mas pensou que se tratava apenas de uma discussão.

O bombeiro tentou apagar as pistas que levassem a Polícia Judiciária de Vila Real até ele. Para disfarçar o ferimento na mão, que fez durante o homicídio, partiu a murro um espelho no quartel e foi receber assistência ao Serviço de Urgência. Deitou fora o telemóvel de Marina num caixote do lixo em Bigorne, mas seria recuperado pelas autoridades com mensagens incriminatórias para o alegado homicida.

Quando foi detido, com as botas e o casaco ainda sujos de sangue da vítima, confessou o crime, mas alegou legítima defesa. No Tribunal de Moimenta da Beira, onde começou a ser julgado este mês de novembro, disse que nessa noite Marina lhe exigiu 30 mil euros para não o envolver na gravidez e que, perante a recusa dele, o agrediu com a mesma faca com que ele depois a mataria.

A 12 de dezembro, o coletivo de juízes do Tribunal de Viseu condenou Carlos Loureiro a 18 anos e seis meses de prisão por homicídio qualificado.

Marina deixa dois filhos, de dois e cinco anos. E não estava grávida. A PJ encontrou na casa um teste usado: deu negativo. A autópsia confirmou o resultado.

(Última actualização - janeiro 2020)

Maria Helena Cabrita

04 FEV

56 anos

Esfaqueada

Seixal

Maria Helena Cabrita, 56 anos, foi assassinada em casa, na Cruz de Pau (Seixal), pelo ex-genro, Pedro Henriques, que depois asfixiou a filha Lara, de dois anos, abandonando-a na mala do carro, em Corroios. Por fim, suicidou-se em Castanheira de Pêra, junto à casa da família.

Este é provavelmente o caso fatal de violência doméstica que mais mediatismo teve em 2019. E não foi só por envolver uma criança, nem sequer pela caça ao homicida que acabou por se suicidar. Tornou-se emblemático de tudo o que corre mal na luta contra este flagelo nacional. Era uma tragédia anunciada mas nada a travou. Nem uma queixa prévia às autoridades, duas idas da PSP à casa dos pais de Lara e repetidas ameaças de morte impediram que a morte chegasse, e a dobrar.

O risco começou em dezembro de 2017, quando Sandra Cabrita, mãe de Lara (então com 17 meses) e filha de Maria Helena, apresentou pela primeira vez uma queixa de violência doméstica no gabinete de apoio à vítima na PSP do Seixal contra o marido Pedro, ex-segurança, desempregado, com quem vivia há seis anos. Na queixa denuncia a ameaça direta que ele lhe fez quando falou de separação sem guarda partilhada. “Eu posso não ficar com a menina, mas vocês [Sandra e os avós] também não ficam. Eu mato-vos, a ti e aos teus pais”.

O teor da ameaça, e de outras que incluíam o uso de armas de fogo, levou a PSP a considerar o caso de risco elevado, a requerer a necessidade de intervenção urgente do MP com mandado de detenção de Pedro para que não tivesse contacto com a família, e Sandra recebeu imediatamente o estatuto de vítima.

Era também recomendada a sinalização de Lara à Comissão de Proteção de Crianças e Jovens. O mandado nunca foi emitido nem a criança referenciada, porque no prazo de uma semana o agressor saiu de casa e o Ministério Público do Seixal ‘desvalorizou’ o caso, considerando tratar-se de coação e ameaça e não de um crime de violência doméstica (que protegeria automaticamente a menor). O tribunal arquivou depois a queixa por falta de indícios e não determinou qualquer medida de coação ao agressor.

A PSP ouviu Sandra três vezes, entre 15 de dezembro de 2017 e 9 de janeiro de 2018. E a cada testemunho via-se crescer a agressividade e a força das ameaças de Pedro: de morte a Sandra, de rapto de Lara. Ainda assim, o Tribunal de Família e Menores decidiu colocar a menor em regime de guarda partilhada, com oposição total da família materna. E assim ficou cerca de um ano, apesar do pai não ter morada fixa (e dar endereços falsos em tribunal), tendo inclusive pernoitado com Lara dentro do carro por falta de alternativa.

Sandra entrou com um pedido para alterar o regime, por considerar que a filha estava em risco permanente ao lado do pai. O juiz pediu um relatório à Segurança Social para suportar a decisão e a 4 de Fevereiro seria determinada a mudança, ou não, numa conferência de pais no Tribunal de famílias e Menores do Seixal. Não chegou a realizar-se.

Pedro acordou cedo nesse dia, para repetir as ameaças que já fizera antes, caso insistissem em tirar-lhe a guarda da filha. Lara estava com ele. Às 6h30 foi até à pastelaria Orly, propriedade dos sogros, onde encontrou o pai de Sandra, Rui Cabrita. Já chegou lá exaltado, alterado. A seguir enfiou-se novamente no carro e foi até à casa dos sogros, onde Sandra vivia desde a separação. Mas a ex-mulher não estava. Foi Maria Helena quem lhe abriu a porta e Pedro esfaqueou-a no peito e no pescoço. Matou-a.

Voltou para o carro, onde Lara continuava a dormir na cadeirinha, e durante 24 horas o país seguiu quase em direto a caça ao homicida. O destino de Lara foi o primeiro a ser conhecido. Às 8h25 da manhã de dia 5 de Fevereiro, o INEM recebeu uma chamada de Pedro Henriques com a localização de Lara. O pai deixara-a dentro da bagageira do carro no estacionamento do McDonald’s de Corroios, no Seixal, morta por asfixia. No tablier deixou uma carta à ex-mulher e à família atribuindo-lhes a responsabilidade pela tragédia. Quando ligou já estava longe dali. Viajara de comboio até Pombal e depois apanhou um táxi até Castanheira de Pêra, a terra da família. Minutos depois de dizer onde deixara a filha suicidou-se com a caçadeira do pai, que foi buscar à casa de Vale das Figueiras.

Lara

04 FEV

2 anos

Asfixiada

Seixal

Lara, 2 anos, foi a vítima mais nova e a única criança a morrer em contexto de violência doméstica. Outros doze menores, filhos de vítimas e de homicidas, precisaram de especial proteção e apoio após os crimes.

O pai de Lara, Pedro Henriques, matou primeiro a avó da filha, Maria Helena Cabrita, 56 anos, em casa, na Cruz de Pau (Seixal), e depois asfixiou a menina, abandonando-a na mala do carro, em Corroios. Por fim, suicidou-se em Castanheira de Pêra, junto à casa da família.

Este é provavelmente o caso fatal de violência doméstica que mais mediatismo teve em 2019. E não foi só por envolver uma criança, nem sequer pela caça ao homicida que acabou por se suicidar. Tornou-se emblemático de tudo o que corre mal na luta contra este flagelo nacional. Era uma tragédia anunciada mas nada a travou. Nem uma queixa prévia às autoridades, duas idas da PSP à casa dos pais de Lara e repetidas ameaças de morte impediram que a morte chegasse, e a dobrar.

O risco começou em dezembro de 2017, quando Sandra Cabrita, mãe de Lara (então com 17 meses) e filha de Maria Helena, apresentou pela primeira vez uma queixa de violência doméstica no gabinete de apoio à vítima na PSP do Seixal contra o marido Pedro, ex-segurança, desempregado, com quem vivia há seis anos. Na queixa denuncia a ameaça direta que ele lhe fez quando falou de separação sem guarda partilhada. “Eu posso não ficar com a menina, mas vocês [Sandra e os avós] também não ficam. Eu mato-vos, a ti e aos teus pais”.

O teor da ameaça, e de outras que incluíam o uso de armas de fogo, levou a PSP a considerar o caso de risco elevado, a requerer a necessidade de intervenção urgente do MP com mandado de detenção de Pedro para que não tivesse contacto com a família, e Sandra recebeu imediatamente o estatuto de vítima.

Era também recomendada a sinalização de Lara à Comissão de Proteção de Crianças e Jovens. O mandado nunca foi emitido nem a criança referenciada, porque no prazo de uma semana o agressor saiu de casa e o Ministério Público do Seixal ‘desvalorizou’ o caso, considerando tratar-se de coação e ameaça e não de um crime de violência doméstica (que protegeria automaticamente a menor). O tribunal arquivou depois a queixa por falta de indícios e não determinou qualquer medida de coação ao agressor.

A PSP ouviu Sandra três vezes, entre 15 de dezembro de 2017 e 9 de janeiro de 2018. E a cada testemunho via-se crescer a agressividade e a força das ameaças de Pedro: de morte a Sandra, de rapto de Lara. Ainda assim, o Tribunal de Família e Menores decidiu colocar a menor em regime de guarda partilhada, com oposição total da família materna. E assim ficou cerca de um ano, apesar do pai não ter morada fixa (e dar endereços falsos em tribunal), tendo inclusive pernoitado com Lara dentro do carro por falta de alternativa.

Sandra entrou com um pedido para alterar o regime, por considerar que a filha estava em risco permanente ao lado do pai. O juiz pediu um relatório à Segurança Social para suportar a decisão e a 4 de Fevereiro seria determinada a mudança, ou não, numa conferência de pais no Tribunal de famílias e Menores do Seixal. Não chegou a realizar-se.

Pedro acordou cedo nesse dia, para repetir as ameaças que já fizera antes, caso insistissem em tirar-lhe a guarda da filha. Lara estava com ele. Às 6h30 foi até à pastelaria Orly, propriedade dos sogros, onde encontrou o pai de Sandra, Rui Cabrita. Já chegou lá exaltado, alterado. A seguir enfiou-se novamente no carro e foi até à casa dos sogros, onde Sandra vivia desde a separação. Mas a ex-mulher não estava. Foi Maria Helena quem lhe abriu a porta e Pedro esfaqueou-a no peito e no pescoço. Matou-a.

Voltou para o carro, onde Lara continuava a dormir na cadeirinha, e durante 24 horas o país seguiu quase em direto a caça ao homicida. O destino de Lara foi o primeiro a ser conhecido. Às 8h25 da manhã de dia 5 de Fevereiro, o INEM recebeu uma chamada de Pedro Henriques com a localização de Lara. O pai deixara-a dentro da bagageira do carro no estacionamento do McDonald’s de Corroios, no Seixal, morta por asfixia. No tablier deixou uma carta à ex-mulher e à família atribuindo-lhes a responsabilidade pela tragédia. Quando ligou já estava longe dali. Viajara de comboio até Pombal e depois apanhou um táxi até Castanheira de Pêra, a terra da família. Minutos depois de dizer onde deixara a filha suicidou-se com a caçadeira do pai, que foi buscar à casa de Vale das Figueiras.

Fernando Cruz

11 FEV

67 anos

Espancado

Porto

Fernando Cruz, de 67 anos, era de Gondomar, mas já morava ali, no 687 da Rua Santos Pousada, no Porto, há cerca de seis anos. Pacato e reformado, gostava de passar o tempo pelas ruas, de parar e demorar-se no café. Umas vezes andava sozinho, outras com um amigo de há poucos meses Juan Costela, de 21 anos, que desde dezembro pernoitava no apartamento.

Na segunda-feira, por volta das 15h, ainda o viram na mercearia, sozinho, às compras. O regresso a casa foi o último. Depois de uma grande discussão, o jovem, natural da Colômbia mas com nacionalidade espanhola, agrediu-o até à morte, com tal violência que o deixou desfigurado, com lesões traumáticas crânio-encefálicas e faciais que lhe causaram a morte. E filmou-o “nos seus últimos momentos de vida", insultando-o e "retirando prazer desse ato", revela a Polícia Judiciária do Porto. Os dois vídeos, que filmou com o telemóvel durante cerca de um minuto, foram depois enviados a um amigo por whatsApp.

O corpo só foi encontrado no dia seguinte, após o alerta de uma vizinha, que estranhou o facto de as janelas terem ficado abertas durante toda a noite. Juan já estava longe. Fugira com a carteira e o telemóvel de Fernando, depois de deitar para o lixo as roupas e objetos ensanguentados num caixote próximo. A Polícia Judiciária do Porto não demorou muito tempo a identificá-lo e detê-lo. Não tinha residência fixa nem profissão, mas o cadastro pesado traçava-lhe o perfil.

Tinha um mandado de detenção europeu e internacional para cumprir 14 anos de cadeia, em Espanha, por tentativa de homicídio de um jovem de 18 anos, em 2017. Perante o juiz alegou que, quando agrediu Fernando, estava sob efeito de álcool e drogas. "Tudo se passou em segundos. Não estava em mim. Estava endiabrado. Tinha tomado haxixe e bebido cerveja", disse o arguido no Tribunal de São João Novo, no Porto, onde decorreu o julgamento.

A 12 de dezembro, foi condenado a 18 anos de prisão pela morte de Fernando Cruz. “Agrediu o ofendido porque este queria ter contactos sexuais. A proposta causou-lhe repugnância e fez com que se sentisse atingido na sua masculinidade. Agiu com base no ódio e numa aversão intensa para com a orientação sexual da vítima. Demonstrou uma arrogância homofóbica", disse o juiz Pedro Menezes.

(Última actualização - janeiro 2020)

Ana Maria Silva

18 FEV

53 anos

Baleada

Chamusca

Não se sabe quanto tempo Rui Vieira ficou à espera no exterior da Danceteria São Martinho, junto à Estrada Municipal 118, na Golegã. Mas sabe-se que só partiu depois de ver sair Ana Maria Sobral da Silva, 53 anos. Ao seu lado estava um homem, de 62 anos, que ele suspeitava ser o novo namorado. Tinha estado a observá-los, a vê-los dançar no interior umas duas horas. Saiu, foi buscar a espingarda de 12 milímetros à bagageira do carro e aguardou o fim da noite. Eram 23h52 quando baleou os dois, pelas costas, com pelo menos dois disparos. Ela morreu logo ali, no parque de estacionamento; ele, vítima colateral, ficou ferido numa mão sem gravidade e foi transportado para o Hospital de Abrantes.

O homicida, de 62 anos, operário fabril numa empresa de curtumes, fugiu de seguida. Estava cumprido o propósito: “Não és minha, não és de ninguém”. Ex-companheiro de Ana Maria, ceramista da Chamusca e operária numa fábrica de transformação de carne em Torres Novas, não se conformava com o fim da relação de oito anos terminada por ela no verão de 2018. Perseguia-a, insistia na reconciliação por SMS, chamadas e presencialmente. No último ano passou às ameaças.

Cinco meses antes de morrer, Ana decidiu fazer queixa formal do ex-companheiro no posto da GNR da Chamusca. A denúncia deu origem a um inquérito do MP, o agressor foi constituído arguido e foi estabelecido um plano de segurança, com contactos periódicos das autoridades com a vítima e reforço do patrulhamento junto à sua residência. Porém, nunca terá sido posto em prática. Quando se deu o crime a investigação ainda corria, com a realização de diligências complementares pedidas pelo MP.

A Polícia Judiciária, através do Departamento de Investigação Criminal de Leiria, deteve o agressor pouco depois do homicídio em casa de uma irmã, em Parceiros de São João, concelho de Torres Novas, e apreendeu-lhe a arma com ajuda do Comando Territorial de Santarém da GNR.

Acusado de dois crimes de homicídio, um na forma tentada, posse de arma proibida e violência doméstica, Rui Vieira disse em tribunal que nunca quis matar Ana, que considera a mulher da sua vida. O alvo, garante, era o homem que tinha ao lado, com quem já a tinha visto dançar noutras danceterias, em Ourém e Santarém. E nem a ele queria tirar a vida, mas tão somente “chumbar-lhe as pernas”, explicou ao juiz.

Os três filhos da vítima, com quem o agressor chegou a viver dois anos, fizeram questão de contar a sua versão da história, nomeadamente a perseguição cerrada de Rui a Ana, que vivia todos os dias com medo do que lhe poderia acontecer. E tinha razão.

A 26 de novembro, o Tribunal de Santarém condenou-o a 22 anos de prisão pelo homicídio de Ana Maria Silva. Terá ainda de pagar uma indemnização de €150.500 aos três filhos da vítima.

(Última actualização - janeiro 2020)

Ana Paula Fidalgo

06 MAR

39 anos

Estrangulada

Vieira do Minho

Ana Paula Fidalgo, 39 anos, e António, de 44, tinham em curso um processo de separação nada amigável, em permanente litígio pelas partilhas e pela nova relação de Ana. O casal, que esteve emigrado em Inglaterra durante vários anos, regressara a Portugal em 2017 e explorava um alojamento e restaurante local junto à EN103, na freguesia de Salamonde, concelho de Vieira do Minho. Foi n’ ‘O Refúgio do Gerês’ que se deu o crime.

António, motorista de autocarros de passageiros em Braga, acusava a mulher de adultério e não queria o ‘amigo’ por ali. Naquela quarta-feira, ao fim da tarde, viu-o através das três câmaras de vigilância do empreendimento que tinha ligadas ao telemóvel. Foi até lá, confrontou Ana e estrangulou-a na zona da lavandaria. O pedido de socorro soou nos Bombeiros Voluntários de Vieira do Minho às 21h11. Ana ainda estava viva quando chegou a VMER, mas morreu no local.

António partiu depois do ataque, conduziu durante 40 quilómetros e entregou-se nessa noite no Comando Territorial da GNR de Braga, confessando o crime de violência doméstica, mas não o homicídio. Disse que lhe bateu, que a deixou inanimada, mas recusou assumir a autoria da morte. Os vizinhos nada viram. Estava um dia de chuva e o Porto jogava a essa hora no Dragão com o Roma para a Liga dos Campeões.

Depois do assassinato de Ana, numa notícia online sobre o crime, publicada no jornal O Minho, surgiu um comentário feito através do perfil conjunto de António e da mulher no Facebook: “Um casamento a três não funciona. Foi feito um pedido para alguém se afastar, não o fez, deu nisto”.

Em setembro, o Ministério Público acusou António de homicídio qualificado, por asfixia, requerendo a indignidade sucessória do arguido, para que não herde os bens da mulher, e deu início ao pedido de adiantamento da indemnização pela Comissão de Proteção às Vítimas de Crime Violento - o casal tinha dois filhos em comum, de 16 e 12 anos.

O agressor ficou em prisão preventiva.

Heila Lopes

06 ABR

44 anos

Estrangulada

Torres Vedras

Heila Lopes, 44 anos, foi a segunda mulher que se separou de António José Silva, de 54, devido à sua agressividade. Primeiro foi a esposa, com quem foi casado de papel passado, que apresentou às autoridades várias queixas contra ele. Depois foi a namorada a terminar a relação que começara há dois anos numa casa de alterne em Torres Vedras, onde ela trabalhava e que o pastor, conhecido por Zé das Cabras, frequentava.

Heila deixou-o e António José subiu o tom ao mau feito. Recusava-se a aceitar. E quando soube que ela tinha novo namorado, que comprara um bar e a colocara como gerente, disse a quem quisesse ouvir que iria matá-la, que se podiam despedir enquanto pudessem. E disse-lhe o mesmo a ela, diretamente.

Talvez por isso, naquele sábado, quando por volta das 4h da manhã saiu do trabalho, Heila pediu aos amigos que a acompanhassem a casa, um apartamento em Torres Vedras. Deixaram-na mesmo à porta do prédio – mas ele estava lá dentro, escondido nas escadas.

Na acusação, já proferida, conta-se que o arguido abordou-a, entraram ambos no apartamento e que António discutiu com ela “pelo ódio de se sentir atraiçoado e enganado”. No quarto agrediu-a “com murros e pontapés” e, “agarrando-a pelo pescoço com ambas as mãos, asfixiou-a” até à morte, levando-a depois para a banheira da casa de banho.

Uma hora depois, ligou aos amigos de Heila a dizer que já cumprido a ameaça, e que a seguir ia fazer o mesmo ao namorado. Depois suicidava-se.

Foi a filha de Heila, de 14 anos, que nessa noite ficara a dormir em casa de umas amigas, que encontrou a mãe já sem vida horas depois do crime.

A GNR deteve o agressor em casa, em São Mamede da Ventosa, a dez quilómetros de Torres Vedras, alcoolizado. Tinha disparado a espingarda para pôr termo à vida, mas nenhum projétil lhe acertou. Ao namorado de Heila nada fez.

A acusação por homicídio foi conhecida a 3 de outubro, seguindo o caso para julgamento no Tribunal de Loures. O arguido está em prisão preventiva.

Ricardo Porfírio

15 ABR

21 anos

Carbonizado

Coruche

Ricardo Porfírio fazia 21 anos nesse dia. Pára-quedista em Tancos, tinha tirado uma licença curta e ia passar o aniversário com o namorado Marco às Caldas da Rainha. Era uma relação recente, mas nem se chegaram a encontrar. Desde que saiu de casa, em Branca, concelho de Coruche, onde vivia com a mãe e a irmã, não se soube dele durante oito dias. O alarme do desaparecimento foi dado pela família e amigos logo no dia de anos, quando se somaram horas sem qualquer contacto.

O corpo do militar do Exército apenas foi descoberto no dia 23 de abril, parcialmente carbonizado debaixo de um carro – o seu Fiat Punto -, também ardido, dentro de uma propriedade rural privada que estava à venda, em Vale do Coto, a cerca de cem quilómetros de casa, no concelho das Caldas. Moradores da zona estranharam ver ali um veículo queimado e passados uns dias chamaram os bombeiros – foram eles que encontraram Ricardo.

Durante a semana de buscas, as suspeitas da polícia judiciária já recaíam sobre Vítor Santos, 31 anos, ex-namorado de Marco. Depois da descoberta do corpo confirmaram-se. Em comunicado, a Judiciária garante que foi possível determinar que a vítima se encontrou pessoalmente com o suspeito, tendo sido reunido um “importante e sólido acervo probatório que permite indiciar fortemente o suspeito como autor do crime”. O rasto das chamadas telefónicas e das localizações celulares era claro.

Vítor não só tinha sido a última pessoa a contactar a vítima, como tinha ‘motivo’ para o crime: Marco deixara-o por Ricardo. Foi detido no dia seguinte à descoberta do homicídio. Perante o juiz do Tribunal de Santarém disse-se inocente, mas as provas apresentadas pela PJ, e a violência e motivação fútil do crime, foram suficientes para que ficasse a aguardar o julgamento em prisão preventiva, a medida de coação máxima, indiciado por homicídio qualificado, profanação de cadáver e incêndio.

A principal testemunha de acusação é, ironicamente, o ex-namorado que, ouvido pela PJ, colocou Vítor Santos no local do crime.

Sónia Ribeiro

03 MAI

37 anos

Estrangulada

Vila Real de Santo António

Sónia Ribeiro, 37 anos, foi morta no seu apartamento em Vila Real de Santo António, no Algarve. Foi a filha mais velha, de 16 anos, que a encontrou ao fim da manhã, pelas 11h30, quando regressava da escola. Pediu imediatamente ajuda aos vizinhos e aos comerciantes da rua de Montemor-o-Novo, chamaram o INEM, mas já não foi possível reanimá-la. O corpo, caído no chão, tinha pequenas perfurações no peito e uma maior perto do coração, que se soube mais tarde terem sido feitas com um picador de gelo, quando Sónia já estaria morta por asfixia.

Ninguém viu o que aconteceu, mas não faltaram testemunhos a apontar o mais provável autor: o ex-namorado José Santos, ‘Tarara’ de alcunha, de 45 anos. Todos os dias aparecia por ali a dizer que a ia matar – não aceitava o fim do namoro que fora sempre conflituoso, marcado por agressões e ciúmes doentios. A família da vítima nem esperou pelas autoridades, e foi logo procurá-lo a Monte Gordo, onde vivia. Quando a GNR chegou a casa do alegado agressor foi em resposta a uma chamada dele, por estar iminente uma agressão.

José garantiu que não estivera com Sónia nessa manhã, que fora ver uma obra, depois pôs gasolina e até foi parado numa operação STOP. Mas a PJ de Faro rapidamente desmontou os álibis, muito graças ao telemóvel da vítima.

A análise ao aparelho, encontrado num contentor de lixo perto da casa de José Santos, revelou que os dois estiveram em contacto na manhã do crime, o que foi confirmado também por uma irmã de Sónia, segundo a qual a irmã recebeu uma chamada do ex-namorado por volta das 10h e se encontrou com ele, depois de ter levado o filho mais novo à escola.

Na acusação, já proferida, em que o agressor responde pelos crimes de homicídio qualificado e furto, o Ministério Público do DIAP de Faro conta que José esmurrou Sónia na cara e na zona lombar e lhe “apertou o pescoço até a sufocar”, matando-a por asfixia (confirmou a autópsia). De seguida, “desferiu-lhe mais de 16 pancadas com um objeto semelhante a um picador de gelo, com o que lhe causou lesões muito extensas em órgãos vitais”. Antes de abandonar o apartamento, o operário de construção civil ainda “retirou e levou consigo objetos de valor que pertenciam à vítima”.

O arguido está em prisão preventiva e será julgado em tribunal coletivo.

Sónia Leite

28 MAI

36 anos

Baleada

Amarante

Foi o terceiro homicídio duplo do ano, em contexto de violência doméstica. Sónia Leite, 36 anos, e o namorado, Joaquim Vaz, 45, foram baleados junto da pastelaria Delícias D’Avó, em São Genes, Freixo de Cima (Amarante). Era hora de almoço, pouco depois das 13h, quando Joaquim Almeida chegou ao local num Opel Corsa branco, dirigiu-se para o café com uma espingarda e disparou dois tiros. O homem, que se encontrava dentro de um carro, foi baleado na cabeça e teve morte imediata; a mulher, atingida no peito, caiu no passeio, entrou em paragem cardiorrespiratória, mas ainda foi transportada para o Hospital de S. João, no Porto, com vida. Restava-lhe pouca. Morreu ao fim da tarde.

Por trás deste crime, está mais uma separação não aceite. Sónia esteve cerca de oito anos com Joaquim Almeida, dono de uma oficina de pneus e de uma imobiliária, tiveram um filho (agora com quatro anos) e separaram-se em 2018, sem nunca oficializarem a relação ou viverem juntos. Entretanto, há três meses Sónia conheceu outro Joaquim, pasteleiro e proprietário do espaço onde agora trabalhava, e o ex sentiu-se traído.

A agressividade não foi coisa de um só dia. Sónia deixou Joaquim devido à violência doméstica de que era vítima, tendo feito diversas queixas contra o homicida junto das autoridades policiais do Vale do Sousa. A separação, porém, não pôs fim às ameaças. O ex continuava a persegui-la e a PJ apurou mesmo que Joaquim andou a vigiar o casal num carro que habitualmente não usava, o que indicia planeamento.

Após o crime, o homicida fugiu e assim andou durante oito dias. Através da monitorização do telemóvel, que manteve ligado no primeiro dia, a Polícia Judiciária conseguiu reconstituir o trajeto inicial: Joaquim tentou sair do país por Quintanilha e Vilar Formoso, mas regressou a Felgueiras devido ao aparato policial montado na fronteira. A partir daí acabou-se a rede e as pistas digitais. As autoridades acreditam que esteve em alguns dos apartamentos vagos à venda na imobiliária, antes de ir para casa de uma tia onde passou a última noite em liberdade.

Durante a fuga foi ajudado pelo filho mais velho, que deu pistas falsas às autoridades e tentava juntar dinheiro para dar ao pai, retirando-o em vários levantamentos da conta do progenitor. E foi através da vigilância do familiar que a PJ chegou ao fugitivo. Foi detido às 7h30 da manhã de 5 de junho em Varziela (Felgueiras), numa rua sem saída atrás de uma fábrica, quando se preparava para partir para outro local. A arma usada no crime foi recuperada, com as suas impressões digitais, assim como os cartuxos vazios, ainda no interior do Opel Corsa abandonado após o duplo homicídio.

Presente ao juiz do Tribunal de Instrução Criminal do Marco de Canavezes, Joaquim ficou em prisão preventiva. Sónia deixa dois filhos, uma rapariga de 18 anos e um menino de três.

Joaquim Vaz

28 MAI

45 anos

Baleado

Amarante

Após o fim de uma relação marcada pela violência e pela obsessão, não é só a mulher que corre risco acrescido. O começo de um novo namoro é igualmente perigoso para quem fica ao seu lado. Joaquim Vaz, 45 anos, estava com Sónia Leite, de 36, há apenas três meses quando foi baleado mortalmente em frente à pastelaria de que era proprietário.

Foi o terceiro homicídio duplo do ano, em contexto de violência doméstica. Joaquim e Sónia foram assassinados junto à pastelaria Delícias D’Avó, em São Genes, Freixo de Cima (Amarante). Era hora de almoço, pouco depois das 13h, quando Joaquim Almeida chegou ao local num Opel Corsa branco, dirigiu-se para o café com uma espingarda e disparou dois tiros. O homem, que se encontrava dentro de um carro, foi baleado na cabeça e teve morte imediata; a mulher, atingida no peito, caiu no passeio, entrou em paragem cardiorrespiratória mas ainda foi transportada para o Hospital de S. João, no Porto, com vida. Restava-lhe pouca. Morreu ao fim da tarde.

Por trás deste crime, está mais uma separação não aceite. Sónia esteve cerca de oito anos com Joaquim Almeida, dono de uma oficina de pneus e de uma imobiliária, tiveram um filho (agora com quatro anos) e separaram-se em 2018, sem nunca oficializarem a relação ou viverem juntos. Entretanto, há três meses Sónia conheceu outro Joaquim, pasteleiro e proprietário do espaço onde agora trabalhava, e o ex sentiu-se traído.

A agressividade não foi coisa de um só dia. Sónia deixou Joaquim devido à violência doméstica de que era vítima, tendo feito diversas queixas contra o homicida junto das autoridades policiais do Vale do Sousa. A separação, porém, não pôs fim às ameaças. O ex continuava a persegui-la e a PJ apurou mesmo que Joaquim andou a vigiar o casal num carro que habitualmente não usava, o que indicia planeamento.

Após o crime, o homicida fugiu e assim andou durante oito dias. Através da monitorização do telemóvel, que manteve ligado no primeiro dia, a Polícia Judiciária conseguiu reconstituir o trajeto inicial: Joaquim tentou sair do país por Quintanilha e Vilar Formoso, mas regressou a Felgueiras devido ao aparato policial montado na fronteira. A partir daí acabou-se a rede e as pistas digitais. As autoridades acreditam que esteve em alguns dos apartamentos vagos à venda na imobiliária, antes de ir para casa de uma tia onde passou a última noite em liberdade.

Durante a fuga foi ajudado pelo filho mais velho, que deu pistas falsas às autoridades e tentava juntar dinheiro para dar ao pai, retirando-o em vários levantamentos da conta do progenitor. E foi através da vigilância do familiar que a PJ chegou ao fugitivo. Foi detido às 7h30 da manhã de 5 de junho em Varziela (Felgueiras), numa rua sem saída atrás de uma fábrica, quando se preparava para partir para outro local. A arma usada no crime foi recuperada, com as suas impressões digitais, assim como os cartuxos vazios, ainda no interior do Opel Corsa abandonado após o duplo homicídio.

Presente ao juiz do Tribunal de Instrução Criminal do Marco de Canavezes, Joaquim ficou em prisão preventiva. Sónia deixa dois filhos, uma rapariga de 18 anos e um menino de três.

Carla Pinto

13 JUN

42 anos

Espancada

Lisboa

Carla Susana Pinto, 42 anos, sofria de maus tratos há pelo menos dois anos, mas o universo temporal pode estar completamente distorcido. Com um casamento longo, e um filho em comum de 15 anos, só se sabe formalmente o ano – 2017 – em que decidiu pela primeira vez fazer queixa contra o marido, e fê-lo logo a dobrar, apresentando-se ela e o filho como vítimas, segundo o Comando Metropolitano de Lisboa da PSP. Em 2019, nova queixa, a indiciar que nada tinha mudado. No fim da primavera foi morta pelo agressor que denunciou.

Estavam os três em casa, na rua José Inácio de Andrade, na Penha de França, quando o pintor de construção civil, de 44 anos, iniciou uma violenta discussão com Carla. O pintor pediu então ao filho para ir à rua fazer umas compras, e quando abandonava o prédio ainda ouviu o recomeçar da discussão. Pouco depois o seu telefone tocou. Era o pai a dizer para voltar para casa, que ele matara a mãe, à pancada.

O INEM limitou-se a declarar o óbito de Carla, já sem sinais vitais no chão da sala quando o socorro chegou. As marcas no corpo da vítima denunciavam o homicídio e acionaram a Polícia Judiciária, que prendeu o pintor. Presente a juiz no Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa, ficou em prisão preventiva.

Emília Simões

17 JUN

79 anos

Esfaqueada

Póvoa de Varzim

Há muito que Paulo Jorge batia a Emília Simões. E ela calava-se. Tinha vergonha. Era uma mãe, de 79 anos, agredida pelo filho, de 45, desempregado e entregue ao álcool. Só os mais próximos sabiam. Refugiava-se muitas vezes em casa da vizinha, no bairro Alberto Sampaio, na Póvoa de Varzim, com medo. Naquela noite de segunda-feira ele chegou novamente embriagado, aos gritos exigiu dinheiro à mãe para comprar mais bebida, ela negou, e ele matou-a com sete facadas nas costas.

Depois do crime, o homicida abandonou a casa onde ambos viviam e ainda com a faca de cozinha na mão dirigiu-se à esquadra da PSP da Póvoa de Varzim. Perturbado, confuso, disse apenas que tinha morto a mãe, sem dizer onde nem de quem se tratava. Acompanhado pela PSP, foi transportado para o Hospital de São João, no Porto, - tinha uma taxa de 1,94 gramas de álcool por litro de sangue - onde lhe seria dada ordem de detenção pela PJ.

Uma hora depois, por volta das 22h, sem saber o que tinha acontecido, entrou na esquadra uma irmã de Paulo Jorge. Três dias antes quis romper com o silenciamento dos maus tratos contra a mãe e apresentou queixa contra o irmão. Mas estava arrependida e estava ali para retirá-la. O agente relacionou as duas histórias e foi enviado socorro imediato para a casa de Emília. Foi assim que ficou a saber da morte da mãe.

A idosa estava em paragem cardiorrespiratória. Ainda foi levada ao hospital, mas acabou por morrer.

Lê-se na acusação, já proferida, que Paulo não se recorda do momento do crime e só se lembra da idosa "embirrar" consigo por não trabalhar. Está em prisão preventiva, acusado de um crime de homicídio qualificado, outro de violência doméstica na forma agravada e ainda mais dois de ameaça agravada.

(Última actualização - janeiro 2020)

Tiago Magalhães

23 JUL

26 anos

Baleado

Lousada

Tiago Magalhães, de 26 anos, padeiro, foi morto a tiro pelo ex-marido da namorada, em Alvarenga, Lousada. O relógio aproximava-se das seis da manhã, a volta do pão estava já a terminar. Ele ia a conduzir a carrinha de distribuição e Daniela Filipa Pinto sentada no lugar ao lado, quando foram emboscados numa rua pouco movimentada. João Miranda, de 31 anos, surgiu no meio da estrada e disparou três tiros de caçadeira, atingindo Tiago na cabeça que teve morte imediata. A namorada sofreu apenas pequenos ferimentos na cara e nos braços provocados pelos estilhaços e foi transportada para o hospital Padre Américo, em Penafiel.

João é o ex-marido de Daniela, de quem tem três filhos e está separado há três anos. Dono de uma padaria em Aparecida, Lousada, era até há pouco tempo patrão de Daniela e Tiago. Até que descobriu que os dois namoravam. E não escondeu a raiva.

No dia anterior ao crime, João agrediu o ex-funcionário e amigo com dois murros na cara, à porta de uma loja de chineses, o que lhe valeu uma queixa na GNR. Depois disso avisou a família de Tiago que o ia matar, e cumpriu. Conhecia bem as rotas da distribuição do pão e foi fácil planear o local onde surpreendê-los, logo após uma curva.

Não era o primeiro processo judicial que enfrentava. João Miranda estava a ser investigado por um crime de violência doméstica contra Daniela Filipa e por um crime de incêndio por, alegadamente, ter destruído a carrinha de um outro padeiro concorrente. Tinha ainda registo criminal por dano.

Depois do homicídio, o agressor entregou-se no posto territorial da GNR da Lixa. Está em prisão preventiva, indiciado por dois crimes de homicídio qualificado, um deles na forma tentada.

Tiago Magalhães deixa um filho de 15 meses, de uma anterior relação.

Adélio Ribeiro

26 JUL

52 anos

Esfaqueado

Barcelos

Adélio Ribeiro, 52 anos, calceteiro emigrado em França há vários meses, tinha regressado a Pereira (Barcelos) na noite anterior. Vinha de férias e ficaria com a mulher e o filho Pedro, que permaneceram em Portugal, até ao fim de agosto.

A convivência familiar nunca tinha sido fácil, marcada pela agressividade do emigrante. E a distância não alterou nada. Os primeiros problemas surgiram logo ao almoço de segunda-feira. Adélio, conhecido por “Chamuscas”, bebeu demais e envolveu-se numa acesa discussão com o filho de 16 anos. Acabada a refeição, Laurinda regressou à fábrica têxtil onde trabalhava, a dois quilómetros de casa, para o turno da tarde, e o calceteiro, cansado da viagem longa de autocarro que o tinha trazido à terra, recolheu ao quarto.

Foi na cama que Pedro Daniel o atacou com uma machada na cabeça, dez minutos depois de a mãe sair. Deu-lhe três golpes e matou-o. Primeiro negou a autoria, inventou um provável suicídio, mas depressa confessou o crime à Polícia Judiciária de Braga. Só ele estava em casa e não havia sinais de arrombamento ou luta. Justificou-se com anos de maus tratos e violência, sobre ele e sobre a mãe, que o regresso do pai e a discussão relembraram de forma dolorosa.

A premeditação não está em cima da mesa. As autoridades acreditam que Pedro agarrou a machada porque estava ao alcance – de manhã Adélio tinha ido comprar um cabo novo para cortar lenha e deixou-a por ali.

Pedro foi detido formalmente perto da meia-noite. Ficou em preventiva, mas apenas até a casa ter condições para recebê-lo com pulseira electrónica enquanto aguarda o julgamento. Por ser menor, todas as decisões obrigaram a uma coordenação rigorosa entre PJ e MP.

Ester Cabral

28 JUL

53 anos

Espancada

Calheta (Madeira)

Ester Cabral, 53 anos, foi morta pelo marido com quem estava casada há três anos. Viviam no Jardim do Mar, na Calheta (Madeira). Ludgero Oliveira, 39 anos, pescador de Câmara de Lobos, tinha ido ao mar e Ester esperou-o durante várias horas. Terá chegado já noite, sob o efeito de drogas, e iniciou-se uma violenta discussão. Já de madrugada, pela uma da manhã, um sobrinho de Ester que vivia perto foi acordado por “barulhos estranhos” que vinham da casa e foram chamadas as autoridades. Foi então que a encontraram.

O corpo, nu, estava no chão do quarto, com “amo-te” escrito na barriga com uma caneta de feltro preta. Havia uma vela acesa junto às pernas. E na cabeça tinha ferimentos profundos que lhe terão causado a morte.

Ludgero tinha fugido. Foi detido horas depois na zona da Calheta. Ao juiz nada disse. Ficou a aguardar julgamento em prisão preventiva, fortemente indiciado pela prática de homicídio qualificado e profanação de cadáver, explica a Polícia Judiciária.

Ester era cuidadora de um idoso e tinha três filhos maiores, de um casamento anterior. A primeira neta tinha nascido há duas semanas.

José Manuel Costa

12 AGO

54 anos

Esfaqueado

Sintra

José Manuel Costa, 54 anos, foi assassinado na sua casa em São Pedro de Sintra. Foi a empregada doméstica que o encontrou, pela manhã, no quarto, num cenário de crime violento. Não havia sinais de arrombamento e nada tinha sido furtado, o que levou logo a Polícia Judiciária da diretoria de Lisboa a considerar que o homicida era conhecido da vítima. A peritagem ao telemóvel, e os indícios recolhidos, permitiram a rápida identificação do autor do crime: um jovem de 24 anos, brasileiro, com quem teria uma relação amorosa informal há alguns meses.

Nessa noite, na sequência de uma discussão, o empresário, ligado ao mundo da comunicação e marketing, foi apunhalado 17 vezes, principalmente no peito, atingido em zonas vitais com uma arma branca de grandes dimensões que nunca foi recuperada, apurou a PJ. O homicida fugiu de seguida, dali e do país – foi de carro até Espanha, onde passou alguns dias, e quando regressou a Portugal passou a ser monitorizado de perto pelos investigadores. A sua detenção, passados vinte dias em fuga, permitiu a comparação do ADN com os vestígios biológicos recolhidos em Sintra e a confirmação de que esteve no local do crime.

O jovem, que não tinha cadastro, acabou por assumir que matou José Manuel Costa na sequência de uma violenta discussão sobre a relação que mantinham. Após o primeiro interrogatório judicial, que durou três horas, ficou em prisão preventiva, indiciado por homicídio qualificado.

A Judiciária disse em comunicado ter reunidos “elementos probatórios seguros” que apontam o arguido como o autor material do homicídio. As provas foram obtidas após a realização de “múltiplas diligências de investigação, incluindo buscas domiciliárias”.

José Manuel Costa teve um percurso profissional ligado ao mundo da comunicação e do marketing. Fundou a agência portuguesa GCI, de que se afastou após a venda em março. O empresário abriu depois a consultora Sustainable Society Initiative, de que era chairman.

Otília Castro

18 AGO

56 anos

Baleada

Vila Nova de Famalicão

Otília Castro, 56 anos, tinha medo que o companheiro a matasse. As colegas da fábrica têxtil onde trabalhava bem viam o receio diário que trazia, e as nódoas negras, e o desejo de conseguir tirar José de casa, da sua casa de Gondifelos, em Vila Nova de Famalicão, herdada dos pais, onde viviam como casal há seis anos. Disse-lhe que tinha de sair, que ela não o queria mais ali, mas ele recusava-se. E a cada novo confronto a agressividade aumentava. O medo virou certeza naquele domingo à noite. Primeiro matou-a com um tiro de revólver, debaixo do queixo. Depois matou-se da mesma forma.

As queixas que Otília apresentara na GNR contra José Ribeiro, de 61 anos, por violência doméstica não a protegeram. A primeira foi há dois anos. Nessa altura o companheiro, canalizador de profissão, saiu de casa, mas regressou pouco depois. Tentaram outra vez e há um ano uma nova denúncia no quartel mostrou que a reconciliação tinha falhado redondamente. Otília tinha sido ameaçada de morte. Os militares foram à casa, na rua do Senhor das Penices, e apreenderam várias armas, mas José manteve-se em liberdade. E voltou novamente a casa.

Na sexta-feira, um dia antes do crime, a GNR chamou-o novamente ao posto. Havia nova queixa. Poderá ter sido o detonador do derradeiro episódio de violência. No sábado havia passeio na terra e eles faltaram. As luzes mantiveram-se acesas nesse dia e a noite toda, o que acrescentou estranheza ao desaparecimento. O irmão de Otília foi lá a casa bem cedo e deu com os dois corpos. Eram nove da manhã de domingo. A irmã estava morta, nas escadas; José ainda tinha sinais vitais, mas perdeu-os na ambulância.

Ambos tinham filhos adultos. José quatro descendentes a viver na Venezuela, onde ele estivera vários anos emigrado, e Otília dois, em França, onde vivera.

João Manuel Lourenço

18 AGO

33 anos

Esfaqueado

Alenquer

João Manuel Lourenço, 33 anos, estava em casa quando foi esfaqueado pela mulher, Liliana, de 31 anos, no lugar da Portela do Sol, no sopé da serra de Montejunto (Alenquer). Apesar do ferimento profundo no abdómen, o caseiro meteu-se no carro e só parou três quilómetros à frente junto ao café de um amigo, na aldeia vizinha de Vila Verde dos Francos, onde pediu ajuda. Sobre o crime não disse nada e pouco se sabe, porque acabou por morrer pouco depois na ambulância, quando ainda estava estacionada junto ao estabelecimento.

Quando as autoridades chegaram a casa de João, Liliana, ainda com a roupa ensanguentada, admitiu imediatamente o crime. E justificou-o com a violência doméstica de que era vítima. Ficou em prisão preventiva. Os dois filhos do casal, de 11 e 3 anos, foram entregues aos avós maternos.

(Última actualização - janeiro 2020)

Maria Clara Magalhães

23 AGO

53 anos

Baleada

Braga

Guerras. A alcunha por que é conhecido Manuel Lopes diz quase tudo sobre o seu temperamento. Os três filhos há muito que cortaram relações com ele, pela violência em que cresceram. A mulher, que se mantinha ao seu lado na casa de Pedralva (Braga), há poucos dias tinha confidenciado à família o medo de morrer às mãos dele. As ameaças, insultos e humilhações eram diárias.

Na véspera do seu 54º aniversário, Maria Clara Magalhães ficou descontente ao saber que Manuel ia cortar lenha com os amigos no seu dia de anos, porque ela teria de cozinhar para todos. Em resposta, o pedreiro, que era caçador nos tempos livres, foi buscar uma caçadeira semiautomática e matou-a junto à cozinha. Depois tentou o suicídio, mas não conseguiu. Ligou a um amigo, pediu que o levasse à GNR do posto do Sameiro e lá chegado confessou o crime.

O Tribunal de Barcelos decretou-lhe prisão preventiva, indiciado por um crime de homicídio qualificado. Os três filhos – a mais nova, grávida, ainda viu a mãe em casa – já fizeram saber que querem testemunhar contra o pai, contar por que passou a mãe que, apesar de trinta anos de casamento violento, nunca apresentou uma queixa contra o marido.

Violante Carrapiço Dias Raposo

31 AGO

77 anos

Baleada

Setúbal

Violante Raposo, 77 anos, estava doente. No início do ano, a antiga professora primária tinha sido diagnosticada com um tumor no cérebro. Após a cirurgia começou a desorientação, pequenos episódios de demência que se foram multiplicando. Sem filhos, Francisco Raposo, 82 anos, o marido de uma vida, era o seu cuidador, mas ultimamente começou a sentir-se incapaz de continuar. Estava cansado, frustrado, desesperado, incapaz, explica a empregada que duas vezes por semana o ajudava.

Naquele sábado Francisco e Violante estavam em casa, um segundo andar em Setúbal, na Rua Francisco Sá Carneiro, quando a mulher tentou atirar-se da janela do quarto, uma vez mais. Passava pouco das 9h da manhã. O marido, militar do exército na reforma, salvou-a. Mas depois de fechada a persiana ouviram-se tiros. Quando a PSP entrou, Violante estava na cozinha e Francisco na sala, ambos mortos.

Gabriela Monteiro

19 SET

46 anos

Esfaqueada

Braga

Gabriela Monteiro, 46 anos, foi assassinada pelo ex-marido em plena rua de Braga, junto ao tribunal. Eram dez da noite, um grupo de rapazes que passava de bicicleta ouviu os gritos, pedalaram até ela, mas já não a conseguiram salvar. Morreu ali. E para as ruas de Braga foram depois centenas de pessoas, mais de quinhentas vestidas de branco, homenageá-la, fazer dela símbolo de um flagelo que continua, ano após ano, a marcar Portugal: as mortes em contexto de violência doméstica. O Theatro Circo, onde trabalhava há uma década como contabilista, fechou em luto e convocou a vigília em sua honra. Apareceram amigos, familiares, autarcas. Encheu-se também a Igreja de Real para se despedir. David Fonseca cantou-lhe a Hallelujah de Cohen, antes do concerto na cidade.

Paulo Fernandes, 48 anos, foi o homicida. Entregou-se na 2ª Esquadra da PSP, a pouco mais de 100 metros do local do crime, ainda com a navalha na mão. Ficou em prisão preventiva por ter tirado a vida à ex-mulher com uma dúzia de facadas, nas costas e no peito.

Durante dois anos viveram juntos no sétimo andar de uma torre de apartamentos perto do local do crime, mas Gabriela terminara a relação, que se tornara violenta, no princípio do verão. Não foi uma decisão consensual.

Um mês depois de Gabriela Monteiro ter sido morta pelo marido, o movimento “Mulheres de Braga” fez nova manifestação “pelas outras Gabrielas”.

A vítima deixa dois filhos.

Cidália Ferreira

24 SET

47 anos

Baleada

Mafra

Cidália Ferreira, 47 anos, e o marido Eduardo, 50, construtor civil, não foram vistos durante três dias na casa onde viviam em Arroeiras, Igreja Nova. A família começou a estranhar a ausência e participou o desaparecimento à GNR de Mafra.

Os corpos do casal foram encontrados numa zona de mato isolada, perto da Malveira da Serra, em Cascais. A carrinha BMW da família estava estacionada nas imediações. Eduardo terá morto Cidália com um tiro nas costas, disparado com a espingarda da família. De seguida, suicidou-se com a mesma arma.

O casal tinha uma filha de 20 anos.

(Última actualização - janeiro 2020)

Nota: Na primeira versão publicada, a 22 de novembro, a fotografia relativa a Cidália Ferreira saiu trocada. O Expresso pede desculpa pelo erro

Camila Mendes

02 OUT

30 anos

Esfaqueada

Arruda dos Vinhos

Camila Mendes, 30 anos, foi morta pelo namorado Robson Mandela, de 38, no 6º andar que tinham arrendado há apenas três semanas em Arruda dos Vinhos. Mas o seu corpo foi encontrado já na rua, num passeio junto à urbanização Fonte do Ouro, dentro de uma mala de viagem de grandes dimensões enrolada em fita adesiva.

O objetivo do homicida era ocultar o cadáver numa zona isolada de quintas e mato, para atrasar ou impedir a sua descoberta e dar-lhe tempo de fugir para o Brasil, de onde eram os dois naturais, ou para França onde vivera anteriormente. Mas enquanto subia uma ladeira com a mala, a pega de plástico partiu-se e ele fugiu, deixando para trás o malão.

O corpo foi rapidamente encontrado. A identificação da vítima, morta com várias facadas nas costas, e do homicida levou mais meio dia às autoridades. Mostraram fotografias da jovem na vizinhança e a agentes imobiliários, até que um se lembrou de ter alugado recentemente um apartamento a Camila e Robson na Rua Fernando Pessoa, perto do local onde estava o corpo. Com a identidade veio o resto. O homicida foi detido de madrugada, nas imediações, ainda com a arma do crime. Sem dinheiro, não tinha como fugir.

O casal era de Minas Gerais. Robson vivia há 15 anos em Portugal quando, durante uma viagem à família no Brasil, começou a namorar com Camila. Por serem primos direitos a relação era mal vista e decidiram partir os dois para os arredores de Lisboa. Chegaram em agosto. Camila seria vítima de violência doméstica e chegou a apresentar queixa na PSP de São João da Talha. Mas não deixou o companheiro.

Robson foi interrogado durante seis horas no Tribunal de Vila Franca de Xira e ficou em prisão preventiva, indiciado por homicídio qualificado e profanação de cadáver.

O corpo de Camila foi trasladado para Ipatinga, a sua terra natal, onde vive a filha de dez anos que ela queria trazer para Portugal.

Maria Assunção Alves

03 OUT

93 anos

Baleada

Paços de Ferreira

Maria Assunção Alves, 93 anos, foi morta pelo marido, José Augusto, de 89. Estavam em casa, em Raimonda, Paços de Ferreira, passava pouco das sete da manhã quando ele lhe deu dois tiros na cabeça com uma pistola 6.35 ilegal. Foi o derradeiro episódio de violência doméstica de que Maria sofria há largos anos e que já tinha levado a duas participações ao Ministério Público, uma das quais na sequência de uma agressão com uma cadeira que obrigou a tratamento hospitalar.

Mas ela regressava sempre e pedia aos mais próximos para não fazerem queixa. José justificava a fúria com suspeitas de que ela tinha amantes. No dia do crime foi ele que ligou à família. Disse o que fez e deu a justificação de sempre. Uma sobrinha foi até ao apartamento e encontrou Maria já morta, no chão da cozinha.

Depois de ouvido pelo Tribunal de Marco de Canaveses, o homicida ficou em prisão preventiva.

Albertina Lopes

11 OUT

44 anos

Esfaqueada

Carrazeda de Ansiães

Maria Albertina Lopes, 44, morreu num cruzamento de um caminho rural com a estrada municipal que liga Carrazeda de Ansiães à aldeia de Samorinha, não muito longe do Santuário de Nossa Senhora da Graça. Era ainda cedo, pouco depois das oito da manhã. Abel Lopes, o marido, de 54 anos, desconfiava que ela teria um caso extraconjugal e ao vê-la dentro de uma carrinha estacionada, a conversar com um homem, partiu para a agressão.

Primeiro destruiu o vidro à pedrada e depois agrediu os ocupantes com uma catana. Os dois tentaram fugir, mas ‘Tina’ não conseguiu. O marido feriu-a no pescoço e no tórax – vinte golpes mataram-na. O outro homem, de 49 anos, ficou com ferimentos graves na cabeça e no braço, e foi levado para o hospital de Vila Real.

A vítima era cozinheira no restaurante aberto com a filha há poucos meses, em Samorinha. Tinha dois filhos com Abel, de 18 e 12 anos, que ainda viviam com os pais. O homicida, operário de construção civil, foi detido e permanece em prisão preventiva decretada pelo Tribunal de Vila Flor. O ferido, originário de Coimbra, já recebeu alta.

Bruno Miguel Carril

11 NOV

27 anos

Esfaqueado

Moita

Bruno Miguel Carril, 27 anos, foi morto pela companheira com duas facadas e óleo a ferver. Quando Ana Manuela Gomes, de 54, chegou à GNR da Moita para se entregar pelo homicídio tinha uma clavícula deslocada e ferimentos no pescoço e alegou ser vítima de violência doméstica há mais de um ano, tendo morto Bruno quando se defendia das agressões.

Contou que nessa manhã foi levar o filho mais novo, de 14 anos, à escola e quando regressou a casa, um r/c na Rua Bernardo Santareno, por volta das 9h, Bruno ainda estava deitado. A falta de empenho do companheiro em procurar emprego era frequentemente razão de discussões e nesse dia acabou em violência. Diz que depois de ser agredida lhe atirou com óleo quente à cara e pegou numa faca de cozinha com que o agrediu fatalmente no pescoço quando estava na casa de banho.

O casal, que tem 27 anos de diferença, conheceu-se na Internet e estava junto há oito anos. Viveu primeiro em Alijó, terra de Bruno, e depois mudou-se para a Moita, de onde Ana é natural e onde trabalhava como cozinheira num lar.

As autoridades não têm registo de queixas anteriores e o facto de haver óleo a ferver àquela hora da manhã levantou dúvidas de premeditação e ditou a prisão preventiva da mulher, após o primeiro interrogatório no Tribunal do Barreiro, por fortes indícios de homicídio qualificado.


TextoRaquel Moleiro
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DireçãoJoão Vieira Pereira

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