Estas são as grandes armas ocidentais na Ucrânia. Que diferença podem fazer?

A NATO defende a sua eficácia, mas especialistas americanos, ingleses e portugueses entrevistados pelo Expresso têm dúvidas

Donbas, o “duelo de artilharia”

Em 2014, numa chamada telefónica, quando questionado por Durão Barroso, na altura presidente da Comissão Europeia, sobre os 1000 soldados russos que estavam a combater no Donbas, uma guerra que ainda dizia não ser sua, Vladimir Putin respondeu: “Se quisesse, poderia tomar Kiev em duas semanas”. À época, um auspício do que viria a acontecer em fevereiro de 2022. Hoje, apenas uma frase que mostra que Putin estava iludido: quatro meses já passaram e aquilo que podia ter sido uma guerra-relâmpago transformou-se numa sangria de recursos militares e económicos, com parcos avanços territoriais e um custo enorme em vidas humanas. 

“São 900 quilómetros de entrincheiramentos com densidades diferentes. É o campo de batalha mais vigiado do mundo, não há blitzkrieg possível. Qualquer movimento de tanques ou pessoal é detetado", diz Rui Cardoso, antigo editor da secção Internacional do Expresso e ex-diretor da revista “Courrier Internacional”, para explicar porque é que os russos resumiram a sua estratégia de guerra ao fogo de artilharia. “O objetivo é fazer fogo de saturação”, insiste. Bombardear à zona e matar indiscriminadamente militares e civis, recorrendo a obuses (howitzers, em inglês), ou a Sistemas de Lançamento Múltiplo de Roquetes, como o BM-21, o sucessor do famoso “órgão de Estaline”, os BM-30 Smerch, o OTR-21 Tochka, ou os TOS-1 Buratino. A Ucrânia está a perder entre 100 a 200 homens por dia na linha da frente.

Nos pontos ao longo da fronteira com o Donbas, onde os combates se intensificam, como, por exemplo, na região de Severodonetsk, cidade entretanto controlada pelos russos, joga-se ao jogo do gato e do rato, onde uma parte conhece a posição da outra, mas são quase sempre os russos a atacar primeiro, até nos raros casos em que há obuses dum lado e do outro: o obus russo, o Peony, de calibre 203 mm, tem um alcance de 38 km, enquanto o obus ucraniano, o Geocent, de 152 mm, tem apenas 28 km. Dez quilómetros de alcance que significam, muitas vezes, a diferença entre a vida e a morte. Um exemplo representativo de uma realidade que esta reportagem in loco do jornal “The New York Times” mostra bem. Numa conferência de imprensa após o anúncio de um novo pacote de ajuda à Ucrânia, Colin H. Kahl, subsecretário da Defesa americano, chamou ao Donbas um autêntico “duelo de artilharia”.

A Ucrânia pede armas ao Ocidente em múltiplos apelos, como o que fez Dmytro Kuleba, ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, no Fórum Económico Mundial 2022, quando disse que “a batalha no Donbas é como a II Guerra Mundial” e que algumas cidades ucranianas foram “dizimadas pela artilharia russa”. Saiu de Davos com um pedido: “Precisamos urgentemente de MRLS [Sistemas de Lançamento Múltiplo de Roquetes]”. No início do mês de junho, o vice-presidente dos serviços de informações ucranianos, Vadym Skibitsky, disse ao diário “The Guardian” que “isto agora é uma guerra de artilharia”, que a Ucrânia está a perder e que, depois de esgotarem praticamente todas as suas munições, os ucranianos estão agora “dependentes do que o Ocidente lhes providenciar”.

Mykhaylo Podolyak, conselheiro do Presidente ucraniano, estimou que o país precisa neste momento de 300 Sistemas de Lançamento Múltiplo de Roquetes, 1000 obuses e 500 carros de combate, um número muito superior ao que recebeu até agora. “Consigo proteger-me e aos meus camaradas com esta espingarda”, diz um soldado ucraniano sobre as recém-chegadas carabinas M4 americanas a uma equipa de reportagem da CNN, “mas não consigo defender o meu país de uma invasão só com isto. Precisamos de artilharia, armas a sério, porque isto é uma guerra moderna”.

Por outro lado, responder às preces dos ucranianos implica um novo tipo de envolvimento no conflito. Se o Ocidente começou cautelosamente por dispensar o antigo equipamento soviético, munições, armas individuais, drones, MANPADS e mísseis anticarro, agora está a fornecer equipamento de última gama, letal, pesado, caro, que funciona de acordo com os padrões NATO e que precisa de abastecimento e manutenção, como explica no think tank "War on the Rocks" o especialista Michael Jacobson, tenente-coronel reservista do exército americano e especialista em artilharia. “A manutenção destes equipamentos implica a deslocação ao teatro de operações de pessoas e empresas ocidentais”, escreve.

O Ocidente arrisca assim a cada instância uma nova escalada do conflito com a Rússia. E pode estar a fazê-lo em vão, como defende em entrevista ao Expresso outro tenente-coronel do exército americano, Daniel L. Davis, que esteve ao serviço 21 anos e é especialista em relações internacionais e questões de defesa. “Sistemas como o HIMARS, o PzH2000 alemão, ou o canhão Caesar francês são de facto muito capazes, mas há alguns problemas”, explica. “Um deles é escala: mesmo que todo o equipamento prometido chegue à linha da frente, não é suficiente para fazer a diferença na fronteira do Donbas. Em boa verdade, o que Kiev deveria fazer era procurar uma saída negociada do conflito.” Mas Zelensky diz que a Ucrânia não está disposta a voltar às negociações. Ceder território não aparece, para já, na agenda do líder do país. No terreno deita-se mão ao que se pode e espera-se por armas que venham equilibrar a balança.

M777 Howitzer Lightweight

Unidades providenciadas: 108 unidades
Tipo: obus rebocado
Calibre: 155mm
Alcance: 25 - 40km

O M777 Howitzer (palavra inglesa, de origem germânica, para obus), ou “triplo sete”, como é conhecido, é uma peça de artilharia rebocada por veículos t´áticos, de origem americana, entregue pela primeira vez ao corpo de Marines em 2005. Já foi usado em vários teatros de operações, como o Afeganistão e o Iraque, e dispara munições de calibre 155 mm, o que resolve o problema da dependência das munições soviéticas de 152 mm, produzidas maioritariamente na Rússia, que disparam os atuais obuses ucranianos. Este debate sobre a passagem para o calibre NATO já é antigo na Ucrânia. O Triplo Sete é o primeiro obus a ser produzido em massa com materiais como o ferro e o titânio, o que lhe confere a capacidade de ser transportado nos helicópteros que a NATO também já forneceu à Ucrânia. Mas é pelo seu alcance de 30 km, ou 40 km, com munições como a Excalibur, que os ucranianos o querem nas quantidades acima mencionadas. Quando comparado com a artilharia soviética, o M777 tem mais alcance do que o autopropulsado Msta, ou o D-30 rebocado, usados por ambas as partes no conflito. Num vídeo do Ministério da Defesa ucraniano, um soldado de um destacamento de artilharia não identificado diz: “Não quero pôr defeitos na nossa velha arma [a Msta], porque nos serviu bem. Mas é como comparar um Zhiguli [automóvel soviético] com um BMW”. Em baixo, outro vídeo do Triplo Sete em ação na linha da frente, na região de Donetsk.

Em maio, o ministro da Defesa ucraniano, Oleksii Reznikov, disse ao secretário de Defesa dos Estados Unidos, Lloyd Austin, que tinha 74 dos 90 obuses fornecidos pelos EUA no teatro de operações. Nessa mesma conversa, falou dos avanços na zona de Kharkiv que essa mesma artilharia estava a possibilitar. À data de 23 de junho, o Departamento de Defesa americano contabilizava 108 obuses, 90 veículos táticos para os rebocar e mais de 220 mil munições de 155 mm.

Equipado com um Sistema Digital de Controlo de Fogo (DFCS, em inglês), este obus tem uma localização e controlo direcional muito precisos. “Um dos grandes problemas dos ucranianos nesta guerra são a precisão e a aquisição de alvo”, explica Rui Cardoso ao Expresso. É por essa razão que também estão ser fornecidos radares de contra-bateria, capazes de identificar as posições do fogo inimigo. O M777 tem um radar cronógrafo e um sistema de autolocalização e pontaria que lhe permite um erro máximo de 1 milésimo. Além disso, permite o disparo de munições inteligentes, guiadas por GPS. Este obus é especialmente eficaz em combates nas zonas rurais, onde as vastas planícies ucranianas não oferecem qualquer camuflagem ou abrigo a quem está no terreno, uma realidade relatada por “The New York Times” nesta reportagem in loco. Ainda segundo este jornal, no final de maio, os EUA tinham treinado cerca de 200 ucranianos em cursos de seis dias na Alemanha.

O Triplo Sete tem, ainda assim, as suas desvantagens. É especialmente vulnerável em zonas urbanas, por não dispor de sistemas de proteção, e o facto de ser rebocado torna-o mais lento do que, por exemplo, o autopropulsado soviético Msta. O Kremlin tem feito muita propaganda em torno da destruição destes equipamentos utilizando a sua força aérea, que continua em larga vantagem. “Os russos voam 300 saídas por dia, contra 5 dos ucranianos. Qualquer arma que chegue à linha da frente vai ser destruída tão rapidamente como a que vai substituir”, explica o tenente-coronel Daniel L. Davis ao Expresso.

Sistema de defesa aérea NASAMS

Unidades providenciadas: desconhecido
Tipo: sistema de defesa áerea
Calibre: mísseis Raytheon
Alcance: 25 - 40km

A NATO sabe que a força aérea russa mantém a dominância sobre os céus ucranianos e não tem interesse em que o seu equipamento caia em saco roto. Joe Biden anunciou durante a última cimeira do G7, na Alemanha, especialmente focada na Ucrânia, que os EUA estão prestes a comprar um número ainda não especificado de NASAMS, o sistema integrado de defesa aérea, de origem norueguesa, de médio-longo alcance, para fornecer à Ucrânia. É um dos sistemas que protege vários países da NATO e também a capital dos EUA, Washington D.C. Ainda não se sabe se os lançadores, representados na imagem acima, serão fixos ou montados em camiões que os transportem, o que encarece o preço.

O que se sabe é que esses lançadores são capazes de disparar todos os mísseis da família Raytheon, incluindo os AMRAAM. Uma fonte da Força Aérea Portuguesa explica ao Expresso: “São mísseis iguais aos mísseis ar-ar que os nossos caças usam e que, embora percam algum alcance por serem lançados do solo, são mísseis ativos, que têm um radar na ponta. A aquisição do alvo é feita pelo sistema em terra, mas também pelo próprio míssíl a partir de uma certa altura do voo”. Outro sistema de defesa aérea que vai ser enviado pela Alemanha, para além do Gepard, é o IRIS-T SL, que dispara um míssil que funciona por infravermelhos e arquiva as silhuetas dos seus alvos numa base de dados, sendo assim capaz de distinguir entre aeronaves inimigas e os flares que estas usam para despistar os mísseis, por exemplo. O IRIS-T SL é disparado por um lançador que pode ser montado num camião da MAN 6x6 ou 8x8. Este sistema é capaz de defender cidades inteiras, disse o chanceler alemão Olaf Scholz num discurso em Kiev, a 16 de junho. Na fotografia abaixo, o sistema completo do IRIS-T SL.

São sistemas integrados que partilham informação entre si. Levanta-se por isso a questão: irão os NASAMS e os IRIS-T fornecidos estar integrados no Sistema de Comando e Controlo Aéreo da NATO? Ao Expresso, a mesma fonte da FAP explica que será difícil. “Todas as armas da NATO têm de cumprir requisitos de integrabilidade, é verdade, mas isso não quer dizer que estejam automaticamente integradas. Até porque os nossos softwares são caros e difíceis de usar. Custaria muito dinheiro e demoraria muito tempo integrar os ucranianos no espaço aéreo da NATO.”

M142 HIMARS

Unidades providenciadas: 8
Tipo: Sistema de Lançamento Múltiplo de Roquetes
Calibre: 155mm
Alcance: 80km

A Ucrânia precisa de Sistemas de Lançamento Múltiplo de Roquetes (MRLS, sigla em inglês). É o tipo de arma em que os seus representantes mais têm insistido. Mykhaylo Podolyak, conselheiro do presidente ucraniano, estima que são necessários 300 para tornar o duelo de artilharia mais justo. Do outro lado, os russos com os seus BM-21, BM-30, capazes de disparar cerca de 30 a 40 roquetes de cada vez, ou os Tochka e os Buratino, este último com um alcance de quase 500km, têm feito fogo de saturação sobre cidades inteiras, tendo Mariupol, por exemplo, ficado para a história como a cidade mártir que quase desapareceu.

Os americanos já entregaram quatro HIMARS e estão mais quatro a caminho que prometem fazer a diferença nos lugares para onde forem destacados: os modelos que a Casa Branca escolheu entregar têm um alcance de 80 km, o dobro dos obuses M777 mencionados acima. Ao contrário destes obuses, os HIMARS são também Sistemas de Lançamento Múltiplo de Roquetes autopropulsados, montados num camião, que garantem uma grande mobilidade - chega, dispara e muda de posição numa questão de minutos - e, por isso, uma grande taxa de sobrevivência também. Abaixo, um vídeo do Ministério da Defesa ucraniano com os HIMARS em operação na linha de frente.

O modelo que os EUA estão a providenciar dispara seis roquetes de cada vez, mas são munições guiadas por GPS, com um ´nível de precisão bastante superior aos modelos BM russos, que bombardeiam à zona, com as chamadas “bombas estúpidas”. O HIMARS é também fabricado em versões com outro tipo de munições que oferecem até 500 km de alcance, segundo a Lockheed Martin, empresa sedeada no Estado do Arkansas que já fabricou mais de 500 unidades desta arma desde 1970. No entanto, Joe Biden explicou ao jornal “The New York Times” que não irá fornecer os modelos com maior alcance para impedir que estes sejam usados para atingir alvos dentro das fronteiras russas. Na véspera do anúncio de Biden, o exército americano já estava a mobilizar unidades de HIMARS estacionadas nos países fronteiriços, onde está também a acontecer a formação e treino de quem os vai disparar e de quem vai fazer a sua manutenção. O Departamento de Defesa estima que três semanas sejam suficientes para treinar uma unidade.

Panzerhaubitzen (PzH) 2000

Unidades providenciadas: 7 alemãs + 5 holandesas
Tipo: obus autopropulsado
Calibre: 155mm
Alcance: 40 - 54km

Além de sistemas de defesa aérea como o IRIS-T e o Gepard (ou Leopard), Scholz prometeu sete unidades, que se vão juntar a cinco holandesas, de uma das armas de ponta da artilharia alemã, o Panzerhaubitzen 2000, ou PzH 2000. O ministro da Defesa ucraniano prometeu “aquecer o campo de batalha” com elas. Diretamente dos stocks de manutenção do exército da Alemanha, como explicou a ministra da Defesa alemã, Christine Lambrech, o PzH 2000 é um obus autopropulsado, montado na carroçaria do carro de combate Leopard-1, que dispara cerca de uma dezena de munições de 155 mm por minuto. Não se sabe quantos já estão no terreno dos 12 que foram fornecidos, ou quantos já foram destruídos, mas este vídeo do Ministério da Defesa ucraniano mostra-os em ação.

A empresa que o fabrica, a Krauss-Maffei Wegmann (KMW), considera este obus o “estado da arte”. A carga de combate são 60 projéteis, recarregados automaticamente, e tem entre 40 a 54 km de alcance, variando com a munição. O alcance é superior ao dos obuses rebocados, mas ligeiramente inferior ao do HIMARS. O que o PzH 2000 oferece, no entanto, é proteção NBC (nuclear, biológica, química), mobilidade e precisão. A Alemanha quebra assim a sua longa tradição de não enviar equipamento deste género para zonas de conflito e junta-se aos Países-Baixos para fornecer um total de 12 unidades do PzH 2000, num programa que vai também treinar e formar pessoal ucraniano que o vai levar para combate.

Camião Equipado com um Sistema de Artilharia (CAESAR)

Unidades providenciadas: 12
Tipo: obus autopropulsado
Calibre: 155mm
Alcance: 40-50 km

Numa visita a Kiev, a 16 de junho, juntamente com Olaf Scholz e Mario Draghi, Emmanuel Macron anunciou o despacho de seis obuses CAESAR, que se vão juntar aos seis que já estão na Ucrânia desde abril. São camiões todo-o-terreno da Renault, com um obus montado, de calibre 155 mm e alta precisão, com um alcance de 40 km (ou mais de 50 se forem usadas munições assistidas por roquetes). Recarrega automaticamente e consegue, tal como o HIMARS e o PzH 2000, oferecer cadência, mobilidade e sobrevivência. Pode chegar, disparar e mudar de posição em menos de 10 minutos. Abaixo um tweet do Presidente francês com um vídeo que mostra um camião CAESAR a ser carregado para um avião.

De todas as armas aqui mencionadas, o CAESAR é talvez o mais difícil de usar, o que agrava o problema da instrução: treinar uma equipa de seis homens para operar os CAESAR pode demorar meses. Na reportagem de “The New York Times” mencionada anteriormente, um soldado ucraniano entrevistado na linha da frente, Mykhailo Zhirokhov, explica que “até os próprios franceses o acham demasiado complicado”.

Macron tem sido especialmente diplomático com Vladimir Putin e a França tem estado relutante em enviar equipamento militar para a Ucrânia. Fontes militares explicaram à rádio francesa Europe 1, a mesma que deu em primeira mão a notícia de que Macron iria anunciar mais seis CAESAR na viagem a Kiev, que essa relutância se prende com dois fatores. Primeiro, a capacidade: de um arsenal de 76 armas, depois desta remessa o exército francês já só dispõe de 64 CAESAR. E a empresa que os fabrica, a Nexter Systems, demora um ano a fazer cada unidade. A segunda razão é política: por um lado, Macron quer permanecer diplomático ao olhos de Putin, por outro, não quer que a ajuda da França seja só humanitária.

Que diferença farão estas armas?

Só os EUA já gastaram $5300 milhões em pacotes de apoio à Ucrânia desde o início da administração Biden e $4600 milhões desde o início da invasão russa. A cada novo pacote de ajuda militar e humanitária, o Departamento de Defesa ressalva sempre os avanços e as conquistas que estas armas da NATO possibilitam. “O cerne do conflito neste momento está no leste, em território ucraniano, e acho que o que estamos a fazer é dar aos ucranianos aquilo de que eles precisam para esta fase do combate”, diz Colin H. Kahl, do Departamento de Defesa americano, numa das conferências de imprensa que se seguiram ao anúncio de um novo pacote de $700 milhões no início do mês.

No entanto, o número de armas providenciadas pela NATO até agora é ínfimo em relação ao que Mykhaylo Podolyak, conselheiro do Presidente ucraniano, diz que precisa para equilibrar a balança: 300 Sistemas de Lançamento Múltiplo de Roquetes, 1000 howitzers e 500 carros de combate. “É uma estimativa bastante realista”, explica o tenente-coronel Daniel L. Davis ao Expresso. “Segundo os últimos números, os russos disparam 70 mil bombas por dia, contra 6000 ucranianas, a desproporção é avassaladora”. E continua: “O somatório das armas que o Ocidente providenciou até agora é apenas uma fração daquilo que é necessário para expulsar a Rússia do território ucraniano”.

Um obus FH70 a ser disparado na região de Donetsk. Foto Ministério da Defesa ucraniano

Um obus FH70 a ser disparado na região de Donetsk. Foto Ministério da Defesa ucraniano

Daniel Davis diz que a NATO está na corda bamba entre ajudar a Ucrânia e evitar o alargamento do conflito a outros países. “A própria Europa está dividida. Países como a Lituânia e a Polónia querem ver a Rússia derrotada, mas as ações da Alemanha, por exemplo, dizem-nos que na verdade a NATO não teme verdadeiramente uma invasão russa. Putin não é suicida e não vai lutar contra uma aliança de 30 países. Mas quando o inverno chegar e os preços do gás estiverem ao rubro, os líderes europeus vão começar a sentir pressão pública para negociarem o fim do conflito e retomarem a compra de gás russo”, conclui.

Justin Bronk, investigador sénior e editor no Royal United Services Institute (RUSI), o think tank de Defesa mais antigo do Reino Unido, defende em entrevista em Expresso que estas armas são de facto cruciais no campo de batalha, por providenciarem a “mobilidade, alcance e precisão necessários para atingir as posições russas”, mas ressalva que, mais importante do que as próprias armas são as munições. “O problema mais sério que a Ucrânia tem neste momento é ficar sem munições, mais do que não ter armas para disparar.”

A mesma fonte da Força Aérea Portuguesa mencionada anteriormente explica que há uma coisa que geralmente não é tida em conta: o efeito de dissuasão que estas armas têm. “Quando o inimigo sabe da existência de NASAMS numa certa zona e não consegue localizá-los, esse território passa a ser considerado uma kill box, o que pode ter um efeito no número de surtidas da força aérea inimiga, por exemplo”.

No think tank War on The Rocks, o tenente-coronel norte-americano Michael Jacobson, defende que a NATO tem capacidade para fornecer à Ucrânia tudo aquilo de que precisa”. Um exemplo dessa capacidade são os HIMARS: a Lockheed Martin, empresa que os fabrica, diz que há mais de 540 unidades espalhadas pelo mundo todo. O tenente-coronel Daniel Davis diz que não acredita que algum país da NATO abdique de centenas de unidades do seu equipamento moderno, mas conclui com esta frase: “Enfim, a verdade é que já vi muita coisa”.

Créditos

Texto Rúben Tiago Pereira
Infografia Jaime Figueiredo
Vídeos Reuters e Ministério da Defesa ucraniano
Webdesign Tiago Pereira Santos
Apoio web João Melancia
Coordenação Pedro Cordeiro e Joana Beleza
Direção João Vieira Pereira

Expresso 2022