Como a pandemia marcou o país:

o antes e o depois em 25 gráficos

Há cinco anos, os portugueses estavam confinados. Foi a primeira vez, mas não a última. Muito mudou nesses dias e uma parte da vida não voltou ao que era. A pandemia de covid-19 trouxe outros hábitos, criou novas definições de bem-estar, mudou padrões de mobilidade, abanou a economia e marcou a população. Eis o país antes e agora

março 2025

Hábitos

Fechados em casa, os portugueses usaram mais o telefone, incluindo o fixo. Lançaram-se a fazer encomendas online, tentaram novas receitas de culinária e compraram muito mais comida para fazer em casa enquanto estiveram limitados a ir a restaurantes. Também criaram uma relação diferente com a televisão, apostaram no streaming e não voltaram às salas de cinema como antes

Chamadas de telemóvel

Em mil milhões de minutos, por trimestre

Mais chamadas de telemóvel e conversas mais longas ajudaram a combater a distância nos confinamentos. No segundo trimestre de 2020, o tempo passado ao telemóvel cresceu 18% face ao mesmo período do ano anterior.
O recorde seguinte registou-se quando os portugueses voltaram a ficar fechados em casa, no início de 2021, durante o segundo confinamento.
Acabada a pandemia, o tempo passado ao telemóvel diminuiu. E nos últimos anos as chamadas feitas através da internet têm vindo a substituir as tradicionais.
Também começaram a circular muito mais encomendas.
Nos três primeiros meses de 2021, foram enviados e recebidos 18 milhões de encomendas. Foram mais seis milhões do que um ano antes.
O hábito de fazer encomendas na internet não voltou a perder-se. Nos últimos três meses de 2024, circularam 23 milhões de pacotes, mais 52% do que cinco anos antes.
Com os restaurantes abertos só para take-away ou entrega ao domicílio, comer fora de casa caiu logo em 2020.
O mesmo não aconteceu com as compras no supermercado que aumentaram e, desde então, não pararam de crescer.
A subscrição de canais de streaming como a Netflix, HBO, Amazon, entre outros, mais do que duplicou entre 2018 e 2020. Nos últimos anos, o crescimento manteve-se, mas abrandou.
Houve meses em que as salas de cinema ficaram absolutamente vazias.
Depois voltaram lentamente a ter espectadores, mas sem voltar aos números anteriores. Exceto em meses específicos quando estrearam filmes como “Barbie”, “Oppenheimer” e “Divertida-Mente 2".

Bem-estar e saúde

Os portugueses provaram ser capazes de se mobilizarem por uma causa e asseguraram que ia ficar tudo bem. Aprenderam a fazer pão em casa e varreram as prateleiras de farinha e de fermento nos supermercados. Também se adaptaram a consultas médicas por telefone. Mas viram a sua saúde mental agravar-se

Pesquisas no Google "Vai ficar tudo bem"

% face ao pico de interesse

Nos primeiros meses da pandemia, para lidar com o medo e o impacto social do isolamento social, tornou-se popular a mensagem #VaiFicarTudoBem.
Mas durou pouco tempo.
Com muito tempo livre e inspirados pelas redes sociais, muitos portugueses lançaram-se a fazer pão em casa.
Só em 2020 venderam-se mais sete milhões de pacotes de farinha e mais 180 mil quilos de fermento do que no ano anterior.
O consumo de ansiolíticos e de antidepressivos registou um salto logo nas primeiras semanas de confinamento. Venderam-se 1,5 milhões de caixas de ansiolíticos e 1,2 milhões de antidepressivos em março de 2020.
Gradualmente, o consumo de ansiolíticos diminuiu e o de antidepressivos aumentou, sem dar sinais de uma melhoria do estado de saúde mental dos portugueses.
Antes, era raro recorrer a consultas de telemedicina. Mas o cenário mudou em 2021, durante a segunda grande vaga de covid.
E a partir de então tornou-se muito mais habitual consultar um médico à distância.
O número de cirurgias programadas não-urgentes caiu a pique nos primeiros meses da pandemia. Foram 10 mil em abril de 2020, menos 80% do que um ano antes.
Em janeiro e fevereiro de 2021, com os serviços de saúde sobrecarregados, numa fase de grande mortalidade no país, muitas cirurgias também foram adiadas.

Mobilidade e ambiente

Com os carros parados à porta de casa, gastou-se menos dinheiro em combustível e também houve menos mortes na estrada. Os turistas não vieram e as viagens para o estrangeiro foram adiadas. Com o fim da pandemia, veio um lento regresso aos transportes públicos e uma rápida e crescente chegada de turistas

Aviões aterrados em Portugal

Número mensal

Pelo mundo fora, os aviões ficaram em terra e milhões de viagens foram canceladas.
Em abril de 2020 aterraram em Portugal apenas mil aviões.
Terminado o segundo confinamento, os aviões voltaram a aterrar em Portugal e até bateram recordes em 2023 e 2024.
Recolhidos em casa, os portugueses também não precisaram de meter gasóleo ou gasolina. Em abril de 2020, o consumo de combustível caiu para metade do mesmo mês do ano anterior.
O mesmo voltou a acontecer, ainda que com menos intensidade, no segundo confinamento.
Com o levantamento das restrições, recuperou-se a mobilidade, mesmo que com padrões de deslocação diferentes. Em 2022, a crise energética trazida pela guerra na Ucrânia criou alguma instabilidade.
Até que em 2023 e 2024 os portugueses superaram o consumo de combustível anterior à pandemia.
Com menor circulação automóvel, também houve menos acidentes com vítimas durante os dois confinamentos.
Mas não houve grandes melhorias na sinistralidade rodoviária no pós-pandemia. Continuam a morrer mais de 600 pessoas por ano.
Os transportes públicos nunca deixaram de funcionar, mas foi obrigatório usar máscara e havia redução da lotação. A fuga aos transportes foi evidente.
Levou muito tempo até que os portugueses voltassem a andar de Metro. No Porto, já houve mais passageiros em 2024 do que em 2019. Em Lisboa, ainda não.
Também a reciclagem não voltou ao que era antes da pandemia, tendo registado uma grande quebra.
Apesar de uma ligeira recuperação, apenas 29% dos resíduos produzidos foram reciclados em 2023.

Economia

Os dois confinamentos fizeram disparar as compras online, mesmo entre quem até estava menos à vontade a navegar na internet. Com menos gastos, os portugueses conseguiram poupar dinheiro e o endividamento com crédito ao consumo desceu. Mas durante pouco tempo. Já o teletrabalho resistiu ao fim da pandemia e os regimes mistos tornaram-se mais populares

Uso do cartão vs. dinheiro

Número de vezes

Pagar com dinheiro tornou-se muito menos frequente. Os portugueses usam agora quase três vezes mais o cartão do que moedas e notas para pagamentos.
E mais de metade dos pagamentos com cartão são feitos sem marcar o pin, em modo contactless.
Foi em 2020 que se deu o maior salto no uso de comércio online e a prática não se perdeu.
Não são só os jovens que compram na internet: quase 30% dos portugueses entre os 55 e os 64 anos também já o fazem. Roupa e calçado é o que mais compram, seguido por encomenda de refeições.
Apesar de terem comprado mais pela internet, o confinamento aumentou a poupança dos portugueses e desacelerou o seu endividamento.
Mas só nesse período.
Acabada a pandemia, os créditos para consumo voltaram a aumentar de forma mais acelerada, em particular em 2024.
Também o teletrabalho, que era praticamente inexistente antes da pandemia, não voltou ao que era e tem estado a aumentar.
No final do ano passado, mais de um milhão de portugueses estava em regime de trabalho remoto total ou parcial.
Depois da curva que a pandemia provocou na taxa de desemprego, com uma subida muito repentina na segunda metade de 2020, o cenário melhorou assim que os portugueses recuperaram as suas vidas e o país voltou à normalidade.
No início deste ano, a taxa de desemprego estava nos 6,2%.

População

Adiaram-se algumas decisões, como casamentos e divórcios. A incerteza e o receio sentidos no início da pandemia também levaram os portugueses a adiar ter um filho: nove meses depois do primeiro confinamento, nasceu o número mais baixo de sempre de crianças. Com a população fechada em casa, os crimes diminuíram

Nascimentos

Por mês

Nove meses depois do primeiro confinamento, o número de nascimentos bateu no valor mais baixo de sempre e fez de 2021 o ano com menor natalidade desde que há registos.
Nos anos seguintes, a imigração ajudou a empurrar a natalidade ligeiramente para cima.
As crianças ficaram pela primeira vez longe da escola e a estudar através de um ecrã a partir de casa. Em 2019/20, as taxas de retenção e abandono escolar caíram.
As mudanças nas regras dos exames e o regime de ensino à distância ajudam a explicar. Mas depois da pandemia as taxas voltaram a aumentar tanto no básico como no secundário.
A criminalidade em 2020 atingiu o valor mais baixo de sempre e a descida foi particularmente visível durante os confinamentos.
A partir de 2022, tanto a criminalidade geral como a violenta e grave voltaram a aumentar.
Durante o confinamento, muitas decisões tiveram de ser adiadas. Houve menos divórcios e, com regras de distanciamento e limitações no número de convidados, também muito menos casamentos.
Contam-se 117 celebrações em abril de 2020 e 177 em fevereiro de 2021.
Mas o fim da pandemia ajudou a concretizar essas decisões. Tanto em 2022 como em 2023 o número de casamentos subiu e superou os números antes da pandemia. Já os divórcios voltaram à tendência decrescente que vinha de trás.
A mortalidade durante a pandemia marcou o país. Desde a gripe epidémica de 1918, nunca tinham morrido tantas pessoas num mês como em janeiro de 2021.
Registaram-se 19.644 mortes nesse mês. Cerca de 30% foram atribuídas diretamente à covid.
Entre 16 de março de 2020 e 16 de março de 2025, em cinco anos, a covid-19 matou 29.159 pessoas em Portugal.
Dessas, 18.977 morreram ainda em 2020 e 2021. São dois terços.
Desde então, já com a população vacinada, a covid-19 não voltou a ter o mesmo impacto. Em 2024, matou 1149 pessoas. Desde o início de 2025, morreram 50.

CRÉDITOS

Texto e tratamento de dados Cátia Barros e Raquel Albuquerque
Infografia Cátia Barros com Sofia Miguel Rosa
Webdevelopement Cátia Barros com João Melancia
Webdesign Tiago Pereira Santos
Coordenação Marta Gonçalves e Rita Ferreira
Direção João Vieira Pereira

Expresso 2025