0:59
Um minuto
para pensar
Multimédia

As democracias liberais europeias estão em risco? E Portugal está a perder liberdade?

Sofia Miguel Rosa

Jornalista infográfica

Sofia Miguel Rosa

Jornalista infográfica

Democracias liberais na Europa
Hungria
Democracias liberais na Europa com pior classificação
no Índice da Liberdade entre 2003 e 2022*

*NOTA: O gráfico mostra os resultados dos 34 países europeus com a designação 'livre', o nível mais alto do índice da Freedom House, e a Hungria, classificada desde 2019, como 'parcialmente livre'. Fora do gráfico ficam 10 países europeus com designações inferiores a 'livre': Albânia, Macedónia do Norte, Montenegro, Moldávia, Sérvia, Ucrânia, Kosovo, Bósnia-Herzegovina, Rússia e Bielorrússia. Freedom House

A Freedom House avalia 195 países em matéria de direitos políticos e de liberdades individuais através da publicação do índice de liberdade: “Freedom in the World”

Na comparação com as outras democracias liberais europeias, Portugal (95 pontos) está na 10ª posição mais alta, com mais um ponto do que a Alemanha e a Islândia (11º), e à frente de outros países como o Reino Unido (14º), a Espanha (20º) ou a França (25º)

A Hungria, que baixou de nível em 2019, obteve a classificação intermédia do índice: países ‘parcialmente livres’ — é o único Estado-membro da UE nesta categoria

Mesmo tendo alguns dos indicadores mais altos no mundo, a União Europeia baixou, em duas décadas, a classificação global em 14 países

Ou seja, metade dos Estados-membros da UE tem um índice de liberdade mais baixo agora do que em 2003

0:59
Um minuto
para pensar

A Freedom House avalia 195 países em matéria de direitos políticos e de liberdades individuais através da publicação do índice de liberdade: “Freedom in the World”. O relatório expõe a forma como as liberdades civis — que vão desde o direito ao voto à liberdade de expressão e à igualdade dos cidadãos perante a lei — podem ser afetadas por ação direta dos Governos ou por forças não-governamentais internas ou externas aos países.

Na globalidade dos 195 países, Portugal posiciona-se em 14º lugar, com 95 pontos. Nos lugares de topo estão a Finlândia, a Noruega, a Suécia, a Nova Zelândia e o Canadá.

Sete das 10 primeiras posições do ranking global de 2022 são ocupadas por democracias europeias, membros ou parceiros da União Europeia — a Finlândia, a Noruega e a Suécia, com 100 pontos; a Dinamarca, a Irlanda, o Luxemburgo e os Países Baixos, com 97 pontos; também a Bélgica e a Suíça, na 11ª posição, estão mais bem classificados do que Portugal, com 96 pontos.

Na comparação com as outras democracias liberais europeias, Portugal está na 10ª posição mais alta, com mais um ponto do que a Alemanha e a Islândia (11º), e à frente de outros países como o Reino Unido (14º), a Espanha (20º) ou a França (25º).

Mesmo tendo alguns dos indicadores mais altos no mundo, a União Europeia baixou, em duas décadas, a classificação global em 14 dos 27 Estados-membros. Ou seja, metade dos membros da UE tem um índice de liberdade mais baixo agora do que em 2003. Portugal é um desses países: baixou 3 pontos, de 98 para 95 pontos (perdeu um ponto em direitos políticos e dois pontos em liberdades individuais).

A Hungria, que baixou de nível em 2019, obteve a classificação intermédia do índice: países ‘parcialmente livres’ — é o único Estado-membro da UE nesta categoria, mas há mais oito países europeus, extracomunitários, considerados 'parcialmente livres'. A Rússia e a Bielorrússia posicionam-se no nível mais baixo do índice e são os únicos, em território europeu, designados como ‘países não-livres’.

keyboard_arrow_down

Evolução do índice de liberdade
nos Estados-membros da UE-27 que perderam pontuação entre 2003 e 2022*

Os índices da Freedom House são publicados anualmente referem-se a trabalho de campo recolhido no ano anterior à publicação. Freedom House


No índice de 2022, a Hungria tem o resultado absoluto mais baixo dos 27 e é também o Estado-membro com uma queda maior (-20 pontos) entre 2003 e 2022 — baixou de 89 para os atuais 69 pontos. No grupo dos países com maiores perdas de liberdade dos parceiros europeus, seguem-se Malta (-10), a Polónia (-7), a Bulgária (-7) e a França (-6). A Itália (90 pontos), que tem um valor absoluto cinco pontos mais baixo do que Portugal, perdeu dois pontos desde 2003.

Os relatórios da Freedom House, uma organização não-governamental com sede em Washington DC, são publicados anualmente, referem-se ao trabalho de campo recolhido no ano anterior. Os índices de 2022 ainda não refletem os resultados eleitorais das últimas semanas nem as mudanças políticas e sociais mais recentes.

keyboard_arrow_down

Democracias liberais no mundo (%)
Entre 2003 e 2022*

Os índices da ‘Freedom House’ são publicados anualmente referem-se a trabalho de campo recolhido no ano anterior à publicação. Freedom House


As democracias liberais no mundo, em comparação com outros regimes menos livres, estão em minoria e caíram de 89 países (46,4%), em 2003, para 83 (42,6%) em 2022. O gráfico em cima mostra que o pico dos países considerados livres pela Freedom House foi em 2007 e em 2008; desde então o número tem tido oscilações, mas sempre com percentagens mais baixas do que nestes anos. A metodologia e o número de países do índice não é o mesmo desde 1973, ano da primeira publicação, mas na década de 1970, a percentagem de países livres não chegava a 30%. Portugal só conseguiu esta classificação na 5ª edição, publicada em 1977.

E o que falta a Portugal para subir no ranking? No último relatório, Portugal tem uma classificação de 39, em 40 pontos, nos direitos políticos e 56, em 60 pontos, nas liberdades individuais. O julgamento que envolve o ex-primeiro-ministro, José Sócrates, é referido no capítulo que avalia se o país tem em vigor medidas de contenção eficazes contra a corrupção nas instituições do Estado — a organização considera que esses mecanismos são insuficientes e dá um ponto de penalização a Portugal em matéria de direitos políticos.

Nas liberdades individuais, os quatro pontos de penalização devem-se:

  1. Avaliação dos direitos de associação e de manifestação — onde é referido o caso da partilha de dados sobre manifestantes anti-Putin por parte da Câmara Municipal de Lisboa (-1 ponto);
  2. Direitos e condições dos detidos e dos prisioneiros — onde é referido o caso da morte de Ihor Homeniuk após ter sido detido pelo SEF no aeroporto de Lisboa (-1 ponto);
  3. Dificuldade no acesso ao trabalho e a uma compensação igualitária de algumas minorias e etnias (-1 ponto);
  4. Falta de mecanismos de proteção robustos contra exploração de imigrantes e vítimas de tráfico humano (-1 ponto)